Martta Simões guarda com especial carinho a memória de quando sentiu que estava “a sério” numa vindima. Foi na Quinta do Noval, no Douro, onde ingressou a equipa de vindima e teve a certeza “que nada mais poderia estar a fazer naquele momento se não vinho”. Antes disso, acompanhava as vindimas com um misto de curiosidade e fascínio na propriedade dos avós e experienciava os aromas e sabores dos vinhos que o pai provava ao fim-de-semana. Assim, a escolha pela licenciatura em Enologia da Universidade de Trás-os-Montes foi algo que aconteceu naturalmente.
Depois de ter trabalhado na Quinta da Romeira, Martta abraçou o projecto da Quinta da Alorna, em Almeirim, onde exerce funções de enóloga em parceria com Nuno Cancela Abreu. Martta confessa o seu orgulho pela colheita de 2004, porque acompanhou todo o processo da vindima à garrafa com toda a atenção e dedicação, não descurando um úncio pormenor.
Gosta de vinhos invulgares como os austríacos Burgenland ou os italianos Amarone e não nega a ambição de um dia deixar o país para produzir alguns dos vinhos que mais admira. Para já, concentra-se no Ribatejo, uma região de “solos excelentes” e que permitem a criação de vinhos muito diferentes, a partir de uvas “do calhau rolado, das areias ou do campo”.
Martta reconhece que os vinhos portugueses que associam castas nacionais e internacionais são uma mais-valia nos mercados internacionais, pois “é mais fácil um consumidor dos Estados Unidos escolher um vinho português Syrah e Touriga Nacional do que um monovarietal Touriga, porque já sabe que gosta de Syrah”. Por outro lado, “o consumidor internacional começa a ficar farto de Chardonnay ou Cabernet Sauvignon, e abre-se um espaço para vinhos diferentes, despertando o interesse para novas castas”. Assim, não é de admirar que Martta considere que o potencial dos vinhos portugueses resida nas castas autóctones.