Magnata troca petróleo por vinho em Portugal
Expresso | 21-06-2008

Karl Heinz Stock deixou os seus negócios no sector dos combustíveis e no imobiliário na Rússia por uma quinta no Algarve, onde se dedica à vitivinicultura e à arte.

A produção de vinho e a criação artística levou um magnata alemão dos sectores dos combustíveis e do imobiliário a abdicar de um dos maiores grupos económicos da Rússia por uma quinta algarvia. O projecto de vida em Portugal de Karl Heinz Stock começou há um ano, ao adquirir a Quinta dos Vales, uma propriedade agrícola com 50 hectares, em Estômbar (Lagoa).

O empresário procurava uma nova forma de vida, diferente do competitivo mundo dos negócios, e encontrou ali, num vale decorado pela vinha e pelas árvores de fruto, a concretização do sonho de regressar à escultura e de se dedicar à vitivinicultura. "A minha vida era uma porcaria e cheguei à conclusão de que tinha dinheiro para poder viver, fazendo aquilo de que gosto", explica. Em Agosto de 2006, vendia as suas últimas participações na ST/STT, grupo de que aliás foi co-fundador, juntamente com o ex-colega da banca Chalva Tchigirinsky. Cerca de seis meses depois, dava início à revolução na propriedade algarvia.

Investimento de mais de 7 milhões de euros

O investimento ultrapassa os sete milhões de euros e pretende transformar a Quinta dos Vales, até 2009, num modelo moderno, multifacetado e original de gestão rural.A adega foi reconstruída e integralmente reequipada. Cinco dos 17 hectares de vinha da propriedade foram replantados, estreando novas castas. As culturas de frutos estão agora ordenadas. Esculturas "pop art" ou mais conceptuais decoram toda a paisagem. As casas rurais estão a ser recuperadas e adaptadas a unidades de alojamento de Turismo Rural. E, para que não falte o que fazer a visitantes, foi criada uma área dedicada a animais de quinta e a algumas espécies exóticas, como lamas e cangurus.

"Não é apenas um atelier de arte, um zoológico, ou uma adega, é um conjunto de valências que financiam todas as outras", explicou à
Lusa. A sua principal preocupação é que possa vir a viver "descansado" dentro de alguns anos, o que obriga, para já, à criação de um modelo de negócio sustentado. Ao longo dos 20 anos em que se dividiu entre o escritório de Moscovo e a escultura, Karl Heinz Stock aprendeu que "as paixões não existem sem outros negócios que as sustentem".

"É um modelo de negócio que apliquei em diversos centros comerciais que construímos na Rússia. Porque é que não iria funcionar numa
quinta?", exemplificou, debitando nas palavras o pragmatismo da sua natureza alemã.

"Trabalho mais do que trabalhava"

Ocupado cerca de 14 horas por dia nos mais pequenos pormenores da propriedade, os seus dias, hoje, não são ainda os de um milionário reformado. "Trabalho muito mais do que trabalhava", confessou, enquanto verificava o estado de saúde dos cachos em formação. O sorriso orgulhoso que ostentava era, porém, de um homem "muito mais feliz".

"Construir um projecto destes, que me permite dedicar à produção de vinho e retomar a escultura é privilégio", assentiu. Nesta volta de 180 graus na sua vida, Portugal acabou por surgir naturalmente. É que "muita coisa mudou em Moscovo nos últimos anos" e Karl Heinz Stock sentia necessidade de um País mais tranquilo do que a Rússia.

Sobre o seu passado, não adianta muito, além do facto de ter sido sócio do grupo que lançou a construção da "Moscow Tower", o segundo maior arranha-céus do Mundo, e de ter constado na tribuna de fundadores de empresas do ramo imobiliário e petrolífero. Prefere, isso sim, falar do presente e da colheita de 2007 do "Marquês dos Vales". Com o apoio de Dorina Lindemann, a enóloga germânica da já conceituada Quinta da Plansel, em Montemor-o-Novo, o empresário convertido à vitivinicultura quer ser um dos três melhores produtores algarvios.

Vinho destina-se aos mercados internacionais

"O vinho do Algarve é já muito bom. Penso que o meu branco já está entre o que de melhor se faz na região. O tinto, que provei recentemente, deixou-me surpreendido", explica o novo produtor. O primeiro lote a sair da adega não deverá ultrapassar os 30 mil litros de vinho, que se destina ao mercado nacional e à Suíça.
No próximo ano, com um ligeiro acréscimo da produção, espera poder exportar também para o seu país natal, a Alemanha. No futuro, quando atingir as 100 mil garrafas/ano, admite mesmo chegar às mais prestigiadas garrafeiras da Rússia, o país de que abdicou há dois anos.

"Quando parei, senti que não podia ficar sentado numa cadeira de praia. Tenho de produzir, tenho de criar e aqui faço-o de uma forma que me agrada",confessou.

A sua felicidade será completa, quando vir o atelier de arte cheio de estudantes e a vinha a produzir um dos melhores vinhos portugueses. Até lá, o alemão sabe que terá muito que trabalhar.
 
 
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