"Se tiver hesitações, o vinho não é 'Barca Velha'"
Diário de Notícias | 29-05-2008

Alegações finais Luís Sottomayor, enólogo.

Aos 44 anos, é o terceiro enólogo que o Barca Velha tem desde que foi criado em 1952. Sente o peso da responsabilidade?

Sinto. Mas sinto sobretudo que é um desafio e um dos cargos de maior prestígio que posso ter na minha profissão em Portugal.

Conheceu o criador do vinho, Fernando Nicolau de Almeida?

Muito bem. Quando eu entrei para a empresa, em 1989, ele já se tinha reformado, mas vinha cá quase todos os dias, para provar os vinhos e conversar connosco.

Que recordação guarda dele?

Era uma pessoa interessantíssima, uma personalidade cativante, alegre, sempre com ideias novas... Como enólogo, aprendi muito com ele, quando provávamos vinhos, sobretudo o seu Barca Velha.

Os enólogos influenciam muito o tipo de Barca Velha que se faz?

O mais importante é o perfil, que foi definido pelo sr. Nicolau de Almeida, que gostava de vinhos com muita estrutura, potentes, com grande capacidade de envelhecimento. Tanto o enólogo que lhe sucedeu, José Maria Soares Franco, quanto eu procuramos respeitar esse perfil. Aliás, eu aprendi muito com os dois e o meu trabalho vem na continuidade do deles.

Mas não há diferenças nos vinhos que fazem?

Algumas, mas muito pequenas. Resumidamente, diria que o sr. Nicolau de Almeida gostava de Barcas Velhas mais robustos, o José Maria Soares Franco privilegiava a harmonia e eu, a elegância.

Quantas pessoas decidem se o vinho merece ser Barca Velha?

A responsabilidade da decisão é só minha, mas é claro que oiço a minha equipa, que é formada por seis pessoas.

Quando decidiu que a colheita de 2000 ia ser Barca Velha?

Este foi fácil. Começou logo na vindima, que foi muito boa no Douro e depois foi só acompanhar a evolução nestes oito anos.

Não sofre pressões comerciais para declarar Barcas Velhas?

A única coisa que a administração da Sogrape me diz é para não mexer no que está bem. Se tiver quaisquer hesitações, é melhor não ser Barca Velha. A qualidade do vinho está acima de tudo.

A quanto vão vender o Barca Velha 2000 no Clube 1500?

Não é a minha área, mas creio que será a 75 euros. O de 1999, lançado em 2006, foi a 65 euros.

Acha que por ser do ano 2000 o vinho vai ficar mais caro?

Penso que não. Para quem gosta de Barca Velha, essa questão é indiferente. Estarão mais interessados na qualidade específica da colheita.

São duas colheitas seguidas, 1999 e 2000. Não teme a ideia de que vamos ter Barca Velha todos os anos?

Na década de 80, tivemos três seguidos, 1981, 1982 e 1983 e isso não significou a banalização do vinho. Aliás, posso já garantir-lhe que não haverá Barca Velha das colheitas de 2002, 2005 e 2006. Como vê, continuará a ser raro...
 
 
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