Uma proposta que chegou à Comissão dos Vinhos Verdes está a causar polémica
Alvarinho em risco de acabar
Correio da Manhã | 20-05-2008

Os sinos voltaram a tocar a rebate na sub-região de Monção, onde se produz o Alvarinho, o ex-libris dos vinhos verdes brancos. É que, na Comissão de Vitivinicultura da Região dos Vinhos Verdes deu entrada uma proposta de alargar a produção deste vinho a toda a área da região, que é como quem diz, ao Entre-Douro-e-Minho.

Tratando-se de uma casta de características microclimáticas e que, segundo os maiores especialistas, só produz com a máxima qualidade em alguns terrenos dos concelhos de Monção e Melgaço, os produtores e autarcas da região temem que, a ser aprovada essa proposta, o Alvarinho, tal como o conhecemos, de grande qualidade, venha a acabar.

"Nós esperamos que isto não passe de uma ideia de algum iluminado, porque se for levada a sério é algo de, pelo menos, catastrófico", disse ao Correio da Manhã José Emílio Moreira, o presidente da Câmara de Monção, um dos rostos da luta de 2004 contra a construção da Barragem de Cela, no rio Minho.

O autarca, que já foi presidente da adega cooperativa local e da Comissão dos Vinhos Verdes diz que alargar a produção de Alvarinho, enquanto vinho de qualidade produzido em região demarcada, seria "a banalização de um produto de altíssima qualidade, talvez o únicodosvinhos verdes com grandes condições de se impor no mercado internacional".

Proposta

Contactada pelo Correio da Manhã, fonte da direcção da Comissão de Vitivinicultura da Região dos Vinhos Verdes confirmou a existência de uma proposta nesse sentido, mas assegurou de que não existe "nenhuma intenção de a aprovar".

A produção de vinho Alvarinho, nos concelhos de Monção e Melgaço (sub-região de Monção), já atingiu os 4,6 milhões de litros, o que representa um volume de negócios próximo dos 25 milhões de euros.

A produção diz respeito a dois concelhos, sendo que Monção representa 55 por cento e Melgaço 45 por cento. No entanto, convém referir que apenas 1,5 milhões de litros são comercializados como Alvarinho, sendo os restantes em vinhos de qualidade, como o Muralhas ou Varandas do Conde.

Feira mostra 19 marcas em Monção

No próximo fim-de-semana decorre, precisamente em Monção, junto à antiga estação dos caminhos-de-ferro, uma feira dedicada ao Alvarinho, que junta as 19 marcas do concelho, incluindo as duas cooperativas existentes no município: a Provam e a Adega Cooperativa de Monção.

Ao todo, nesta sub-região, contando os concelhos de Monção e Melgaço, existem já mais de 70 marcas de Alvarinho, a esmagadora maioria das quais no concelho melgacense, onde se produz 45 por cento de todo o vinho Alvarinho.

O preço médio da garrafa ronda os 13 euros, sendo que o mais barato anda pelos dez euros e o mais caro ultrapassa os vinte.

Quanto à produção total desta casta, ascende a 4,6 milhões de litros, mas só são engarrafados como Alvarinho 1,5 milhões, ou seja, três mil pipas.

Na Feira do Alvarinho de Monção há um complemento fundamental, que passa pela animação musical e pela gastronomia.

É que os restaurantes do concelho, onde pontifica o sável e o cabrito assado, associam-se à iniciativa, servindo paladares propícios a serem acompanhados pelo vinho Alvarinho.

A Câmara de Monção espera a visita, sábado e domingo, de mais de 15 mil pessoas.

Pormenores

TRÊS MIL PIPAS

Nos concelhos de Monção e Melgaço são, todos os anos, produzidas cerca de três mil pipas de vinho Alvarinho, qualquer coisa como dois milhões de garrafas.

METADE PARA EXPORTAR

As comunidades portuguesas são responsáveis pelo consumo de muito do Alvarinho que é exportado para o estrangeiro. As exportações atingem já mais de metade da produção.

A MODA DO ESPUMANTE

Chegou aos vinhos verdes há quase 15 anos e ao Alvarinho há uma década. Hoje há cinco marcas de espumante da casta Alvarinho. Destaque para o Côto de Mamoelas, da Provam.

ADEGAS EM ALTA

Ao contrário do que acontece com a generalidade das adegas cooperativas, as da zona do Alvarinho, Monção, Provam e Quintas de Melgaço, respiram saúde financeira. E podem pagar a uva de boa qualidade a um euro o quilo, ao contrário do que acontece com a uva de vinho verde de outras castas, que raramente ultrapassa os 25 cêntimos por quilo.
 
 
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