João Machado presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), não hesita em considerar a "reforma profunda" apresentada pela Comissão como "catastrófica para a vitivinicultura portuguesa e europeia".
O responsável considera, do ponto de vista comunitário, "absolutamente inaceitável" que cesse a interdição ao mosto (sumo da uva antes de terminada a fermentação) de países terceiros, que vigora actualmente. Na prática, esclarece João Machado, nada impede que mosto de outros países entre no país, "sem pagar impostos" e seja utilizado em vinhos nacionais. Se a proposta for aceite, acrescenta "podemos começar a ter vinhos europeus com misturas desses mostos importados". Além de não resolver os excedentes da região - principal objectivo de Bruxelas -, de poder vir a alterar a genuinidade dos vinhos europeus, poderá inclusivamente levar à deslocação de produtores para outras paragens. Se se mantiver a intenção de Bruxelas, o que é que impede, questiona o presidente da CAP, que um grande produtor europeu não venda as suas vinhas neste continente e vá para o "novo mundo" fazer tudo de raiz, onde em muitos casos a produtividade por hectare até é mais elevada?
Se não fosse por esta questão central, e pelo "desaparecimento total do condicionamento [direitos de plantação] da vinha", João Machado nem veria com maus-olhos o fim dos apoios ao mercado, não só porque Portugal normalmente não recebe grandes quantias - porque não tem muitos excedentes para destilar -, como a medida, admite, serviria para "equilibrar o mercado", assim como a arranque das vinhas sem qualidade.
ViniPortugal quer reforma nacional
Para a ViniPortugal, associação interprofissional do sector, é necessário primeiro avançar com a reforma do sector a nível nacional, iniciativa que "está atrasadíssima", por indefinição por parte do Ministério da Agricultura, defende Vasco d'Avillez. O presidente da organização reitera que antes de introduzir qualquer reforma a nível comunitário que está ainda a analisar - é necessária a "clarificação da política nacional", nomeadamente em relação ao destino do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e da aprovação da Indicação Geográfica Portugal (IG Portugal).
Jaime Silva, ministro da Agricultura e Pescas, subscreveu com os homólogos da França, Espanha e Itália (80% da produção comunitária um memorando entregue à comissária da tutela, Mariann Fischer Boel, a recordar "a fragilidade" do sector face aos riscos climáticos e à concorrência das importações da países terceiros.
No caso português, a tutela tem ainda outro problema para resolver como coordenar o esforço que tem feito em apoiar a reconversão de velha para nova vinha (através do programa Vitis) com a vontade de Bruxelas de que não sejam plantadas novas videiras até 2013. |