Quem faz vinhos por gosto não cansa
Diário de Notícias | 03-05-2008

Há quem lhes chame "enólogos de telemóvel" ou, adoptando a expressão internacional, "flying winemakers". Mas Rui Reguinga diz que, no seu caso, é mais "driving winemaker", já que todos os anos, só em Portugal, percorre entre 70 mil e 80 mil quilómetros para visitar os dez produtores de vinho que recorrem aos seus serviços de consultor. Isso sem contar as duas viagens anuais a Mendoza, na Argentina, onde desde 2004 trabalha com grande êxito com um produtor local.

"É de facto um bocado desgastante, sobretudo para a minha família, mas não me queixo. Foi esta a vida que escolhi", reconhece este enólogo nascido há 42 anos em Almeirim, cujo avô e o pai já estavam ligados à produção de vinho em terras próprias. "O meu primeiro interesse foi a vinha, por isso fui para a Escola Superior Agrária de Santarém. Só depois é que me interessei em fazer vinhos", recorda.

Confessando-se "profissionalmente muito ambicioso", divide a sua carreira por fases. A primeira vai do início dos anos 90 até 2000, período em que trabalhou com o famoso enólogo João Portugal Ramos, auxiliando-o nas numerosas consultorias que tinha País fora. "Aprendi muito nesse período, sobretudo quando comecei a trabalhar com os produtores no terreno, mas em dado momento achei que tinha de dar um passo em frente, fazendo as coisas ao meu estilo."

A Rui Reguinga Enologia, Lda, surge então e tem logo vários clientes no Ribatejo, como a Casa Cadaval ou a Quinta da Lagoalva, mas também no Alentejo, como Monte da Ravasqueira, Herdade Paço do Conde, Lima Mayer ou Herdade do Gamito, onde o enólogo orienta projectos de raiz, desde a plantação da vinha e desenho da adega até à elaboração dos vinhos e a sua promoção. "Estes projectos que acompanho desde o início são os que me dão mais satisfação, embora tenha de explicar aos produtores, alguns dos quais não vêm do mundo dos vinhos, que têm de ser pacientes. Só agora estamos a ter os resultados do que fizemos há seis ou sete anos."

Rui Reguinga garante que não é o dinheiro a razão fundamental que o faz aceitar um projecto, mas sim "a possibilidade de expressar o que um terroir pode dar". Assegura que quem, por exemplo, provar os vários vinhos que faz por todo o Alentejo encontrá sempre diferenças.

Hoje, além de Ribatejo e Alentejo, este enólogo tem também a consultoria de vinhos no Dão (Quinta dos Roques e Quinta das Maias) e na Península de Setúbal (Herdade da Espirra). "Não quero ter mais do que dez clientes, porque faço questão de os acompanhar permanentemente e não há telemóvel que substitua a nossa presença no local", diz ao DN gente, contrariando a tal ideia de que é possível fazer vinhos à distância. Uma pós-graduação em Marketing de Vinhos tirada em 1999-2000 na Escola Superior de Biotecnologia na Universidade do Po rto mostrou-lhe que actualmente um enólogo é também um relações públicas dos vinhos que produz, uma tarefa que assume com gosto, apesar da falta de tempo. "Ainda por cima, o meu hobby é fazer pequenas produções de vinhos próprios confessa. Mas é mesmo desta vida que ele gosta.
 
 
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