A investigadora internacional Carmo Vasconcelos, actualmente a trabalhar na Nova Zelândia, salientou hoje, em Vila Real, a "melhoria impressionante" da qualidade dos vinhos do Douro verificada nas duas últimas décadas.
O convite da Vinideas para participar no congresso técnico e científico de viticultura, enologia e mercado, "Infowine Fórum", que decorre entre hoje e quarta-feira, em Vila Real, representou a oportunidade da investigadora regressar a Portugal, de onde saiu há 23 anos.
Carmo Vasconcelos é actualmente cientista sénior da HortResearch Malborough, na Nova Zelândia, e é professora associada da Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos da América.
É considerada como das especialistas mundiais em Pinot Noir e possui um vasto trabalho publicado na área da viticultura.
"Eu apaixonei-me pela viticultura no Douro. É a minha região favorita do mundo", afirmou a especialista.
Carmo Vasconcelos tem 46 anos, nasceu em Lisboa e estudou no Instituto Superior de Agronomia, tendo estagiado há 25 anos na Cooperativa Vitivinícola do Peso da Régua.
"O que esta região tem de especial é a paisagem. Eu estive em regiões vitícolas de todo o mundo, mas não há nenhuma tão fantástica como o Douro", salientou.
Nestas duas últimas duas décadas, a especialista diz que a qualidade do vinho tem vindo a melhorar muito.
"É impressionante como os vinhos melhoraram durante o tempo em que estive fora. Como o vinho de mesa atingiu qualidade excepcional que não existia quando eu saí, numa altura em que o melhor fruto era dedicado ao vinho de benefício", frisou.
As informações sobre o Douro chegam a Carmo Vasconcelos através de Tiago Sampaio, que foi seu aluno em Oregon, mas que é natural da região.
Nas suas viagens à volta do mundo, a especialista diz que não tem visto muito o vinho de mesa do Douro nos mercados internacionais e considera que Portugal tem que apostar na qualidade do produto e não na quantidade.
"No mundo do vinho ou se é bastante pequeno ou bastante grande. No caso do Douro, os vinhos de nicho são a melhor estratégia", afirmou.
Porque diz gostar muito de desafios, depois de passar pela Régua a investigadora foi estagiar para a Suiça, onde acabou por tirar o doutoramento e um pós-doutoramento.
Da Suiça seguiu para os Estados Unidos da América, onde viveu durante 14 anos no Oregon, onde foi convidada para trabalhar na Nova Zelândia.
Entre a região vinícola do Douro e a Nova Zelândia, a especialista diz que não há comparação possível, apontando a escala é uma das maiores diferenças.
Segundo referiu, na Nova Zelândia a zona de maior crescimento é precisamente aquela onde está a trabalhar, a de Marlborough, que diz ter "já tem uma certa reputação internacional.
"Na Nova Zelândia é tudo grande, as vinhas são a perder de vista. Aqui no douro é tudo pequeno", frisou.
No outro lado do mundo, a investigadora diz que está a ser utilizada a tecnologia de ponta australiana, considerando que a parte enológica está também a ser muito influenciada pela Austrália.
Quanto à parte da viticultura, Carmo Vasconcelos refere que ainda "há muito para aprender".
"Na Nova Zelândia também estão no mercado de topo de qualidade não de quantidade. Eles ainda estão a aprender muito sobre a viticultura. Porque não há tradição, é tudo novo", salientou.
O grande sonho da investigadora é regressar a Portugal, lamentando, no entanto, que não hajam vagas para poder seguir uma carreira académica no nosso país.
Nesta sua primeira conferência em português, Carmo Vasconcelos falou sobre "as práticas culturais e níveis de produção: impacto na fisiologia da videira e composição final da uva".
A especialista considerou que a intercepção da luz solar e a redução de dióxido de carbono em carbohidratos através da fotossíntese regulam o crescimento vegetativo da videira, a produção, a composição do fruto e as reservas de carbohidratos que permanecerem para as épocas seguintes.
Frisou ainda que a escolha da combinação variedade - porta-excerto e a sua interacção com o ambiente, o sistema de condução, a nutrição mineral e a disponibilidade de água determinam o vigor da videira, a densidade da sebe vegetativa e a produção e a qualidade potencial do fruto.
Compreender a forma como os carbohidratos são produzidos e translocados dentro da videira e como podem ser controlados através das práticas culturais permitirá, de acordo com a especialista, a optimização da produção e da composição do fruto. |