Investigadora internacional salienta melhoria da qualidade dos vinhos do Douro
RTP | 23-04-2008

A investigadora internacional Carmo Vasconcelos, actualmente a trabalhar na Nova Zelândia, salientou hoje, em Vila Real, a "melhoria impressionante" da qualidade dos vinhos do Douro verificada nas duas últimas décadas.

O convite da Vinideas para participar no congresso técnico e científico de viticultura, enologia e mercado, "Infowine Fórum", que decorre entre hoje e quarta-feira, em Vila Real, representou a oportunidade da investigadora regressar a Portugal, de onde saiu há 23 anos.

Carmo Vasconcelos é actualmente cientista sénior da HortResearch Malborough, na Nova Zelândia, e é professora associada da Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos da América.

É considerada como das especialistas mundiais em Pinot Noir e possui um vasto trabalho publicado na área da viticultura.

"Eu apaixonei-me pela viticultura no Douro. É a minha região favorita do mundo", afirmou a especialista.

Carmo Vasconcelos tem 46 anos, nasceu em Lisboa e estudou no Instituto Superior de Agronomia, tendo estagiado há 25 anos na Cooperativa Vitivinícola do Peso da Régua.

"O que esta região tem de especial é a paisagem. Eu estive em regiões vitícolas de todo o mundo, mas não há nenhuma tão fantástica como o Douro", salientou.

Nestas duas últimas duas décadas, a especialista diz que a qualidade do vinho tem vindo a melhorar muito.

"É impressionante como os vinhos melhoraram durante o tempo em que estive fora. Como o vinho de mesa atingiu qualidade excepcional que não existia quando eu saí, numa altura em que o melhor fruto era dedicado ao vinho de benefício", frisou.

As informações sobre o Douro chegam a Carmo Vasconcelos através de Tiago Sampaio, que foi seu aluno em Oregon, mas que é natural da região.

Nas suas viagens à volta do mundo, a especialista diz que não tem visto muito o vinho de mesa do Douro nos mercados internacionais e considera que Portugal tem que apostar na qualidade do produto e não na quantidade.

"No mundo do vinho ou se é bastante pequeno ou bastante grande. No caso do Douro, os vinhos de nicho são a melhor estratégia", afirmou.

Porque diz gostar muito de desafios, depois de passar pela Régua a investigadora foi estagiar para a Suiça, onde acabou por tirar o doutoramento e um pós-doutoramento.

Da Suiça seguiu para os Estados Unidos da América, onde viveu durante 14 anos no Oregon, onde foi convidada para trabalhar na Nova Zelândia.

Entre a região vinícola do Douro e a Nova Zelândia, a especialista diz que não há comparação possível, apontando a escala é uma das maiores diferenças.

Segundo referiu, na Nova Zelândia a zona de maior crescimento é precisamente aquela onde está a trabalhar, a de Marlborough, que diz ter "já tem uma certa reputação internacional.

"Na Nova Zelândia é tudo grande, as vinhas são a perder de vista. Aqui no douro é tudo pequeno", frisou.

No outro lado do mundo, a investigadora diz que está a ser utilizada a tecnologia de ponta australiana, considerando que a parte enológica está também a ser muito influenciada pela Austrália.

Quanto à parte da viticultura, Carmo Vasconcelos refere que ainda "há muito para aprender".

"Na Nova Zelândia também estão no mercado de topo de qualidade não de quantidade. Eles ainda estão a aprender muito sobre a viticultura. Porque não há tradição, é tudo novo", salientou.

O grande sonho da investigadora é regressar a Portugal, lamentando, no entanto, que não hajam vagas para poder seguir uma carreira académica no nosso país.

Nesta sua primeira conferência em português, Carmo Vasconcelos falou sobre "as práticas culturais e níveis de produção: impacto na fisiologia da videira e composição final da uva".

A especialista considerou que a intercepção da luz solar e a redução de dióxido de carbono em carbohidratos através da fotossíntese regulam o crescimento vegetativo da videira, a produção, a composição do fruto e as reservas de carbohidratos que permanecerem para as épocas seguintes.

Frisou ainda que a escolha da combinação variedade - porta-excerto e a sua interacção com o ambiente, o sistema de condução, a nutrição mineral e a disponibilidade de água determinam o vigor da videira, a densidade da sebe vegetativa e a produção e a qualidade potencial do fruto.

Compreender a forma como os carbohidratos são produzidos e translocados dentro da videira e como podem ser controlados através das práticas culturais permitirá, de acordo com a especialista, a optimização da produção e da composição do fruto.
 
 
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