Limpa os dentes, embeleza a face, promove o crescimento dos cabelos ou restabelece o apetite. A lista de benefícios identificados há mais de dois mil anos fazem, por si, o elogio daquele que é considerado o néctar dos deuses.
Hoje, a Ciência e a Medicina encarregaram-se de actualizar as vantagens associadas ao vinho e substituí-las por outras. E um desses trabalhos tem assinatura nacional. Realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC), mostra como ingerir uma dose moderada de vinho tinto ajuda a evitar o cancro dos intestinos em ratinhos de laboratório.
Helena Saldanha, nutricionista e professora na UC, coordenou a tese de mestrado que demonstra o que há muito se defende: “O vinho tem aminoácidos essenciais, minerais, antioxidantes poderosos, entre os quais flavonóides e resveratol, que apenas se podem encontrar no vinho tinto e nos mirtilos e que impede a proliferação de células tumorais”.
O trabalho que testa o que a teoria apregoa recorreu a ratos, aos quais foi dado um carcinogénio, com o objectivo de alterar a mucosa dos intestinos. O destino dos pequenos animais estava, desta forma, traçado. Divididos em três grupos, os primeiros foram deixados à sua sorte, enquanto segundos e terceiros viram a dieta enriquecida com uma dose de vinho tinto, sem álcool para uns, alcoolizado para os restantes.
“Ao fim de três meses, os ratinhos do primeiro grupo foram sacrificados e encontrámos vários tumores nos intestinos”, avança a especialista. Os restantes tiveram a sentença de morte adiada por mais três meses, findos os quais tiveram igual destino. No entanto, a imagem dos seus intestinos era bem diferente. “No segundo grupo, não se encontraram tumores, apesar de haver alterações nas mucosidades intestinais. No terceiro grupo, aqueles que ingeriram vinho com álcool, as vilosidades, que são o que permite fazer a absorção dos alimentos, tinham sido invadidas por linfócitos CD4, responsáveis pela morte das células tumorais e muitas estavam já completamente limpas.”
Não há dúvidas de que “o vinho modificou, para melhor, o aspecto dos intestinos.” Mas Helena Saldanha diz que só pequenas quantidades permitem ganhos. “Os excessos dão origem a alterações progressivas, silenciosas. Mesmo sem perturbações visíveis, as células cerebrais e do fígado vão morrendo.”
Ingredientes que evitam doenças
Chama-se resveratrol e é um ingrediente exclusivo do vinho tinto e dos mirtilos, que actua melhorando a imunidade das células, impedindo a proliferação de células tumorais e prevenindo o aparecimento do cancro. É o que têm provado vários estudos, que se juntam ao português para demonstrar os benefícios do vinho tinto, como o trabalho realizado por investigadores espanhóis, da Universidade de Santiago de Compostela, que verificaram que esta bebida pode proteger contra o cancro do pulmão. Mas há mais. Dos EUA veio a confirmação que um copo de tinto por dia pode reduzir para metade o risco do cancro da próstata. E os benefícios não se ficam por aqui. Há ainda os flavonóides, que afastam o risco das doenças cardiovasculares e funcionam como antioxidantes poderosos, existindo também em várias frutas e vegetais verdes. Ou os aminoácidos essenciais, presentes no vinho, mas ainda em alimentos de origem animal e vegetal. |