Produzida na serra algarvia há várias gerações, a aguardente de medronho está a lançar-se no mercado das bebidas espirituosas. Se antes era um exclusivo das tabernas e cafés, hoje o "uísque algarvio" ameaça ganhar fama de produto de luxo.
O mesmo medronho usado para consumo próprio ou servido em zonas recônditas da serra em garrafinhas de plástico é agora vendido nas cidades em garrafas de litro rotuladas e que podem atingir os 40 euros a unidade.
Apesar da produção no Algarve ter caído de 700 para 100 mil litros em 40 anos, assim como o número de destilarias - chegou a haver 400 e hoje não há mais de 70 -, o produto ganhou em reconhecimento e qualidade, existindo actualmente 11 marcas regionais desta bebida branca.
Os dados da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPALG) demonstram a dimensão da quebra nas últimas décadas. Contudo, a tendência, diz aquele organismo, é que o medronheiro se torne numa das culturas com mais potencial na região algarvia.
Dona de uma destilaria em Monchique a laborar há mais de 80 anos, Francisca Melo ainda se lembra de sair de casa e ver um manto de medronhos em redor da porta. Os medronheiros continuam lá "mas não há quem queira apanhar os frutos", desabafa.
A falta de mão-de-obra, a gradual substituição de medronheiros por manchas de eucaliptos, a seca e os incêndios que assolaram a região em 2003 e 2004, contribuíram para que a produção diminuísse a olhos vistos.
O processo de recolha dos medronhos, parecidos com morangos silvestres mas mais rugosos, é complexo e exige rigor, seguindo-se depois a fermentação em pipas, que dura no mínimo dois meses -, e a destilação em alambiques.
As regras para o licenciamento de destilarias e a fiscalização estão cada vez mais apertadas e, segundo a DRAPALG, apesar de ter diminuído, continua a haver alguma produção clandestina o que, segundo um produtor de Messines, "denigre" a imagem do medronho.
"Existe concorrência desleal por causa do mercado paralelo, que faz com que os consumidores tenham a ideia de que as aguardentes de medronho são produtos falsificados", lamenta Manuel Sousa Martins.
A DRAPALG admite que a produção clandestina ainda tem algum peso no mercado, o que acaba por criar situações de concorrência desleal, com quebra das margens de lucro perante os que estão legalizados, mas refere, por outro lado, que a fiscalização está cada vez mais eficaz no combate à produção não licenciada.
Apesar das quebras na produção, a DRAPALG considera que a aguardente de medronho tem "boas potencialidades" se dirigida a um nicho de mercado próprio e desafia os produtores a apostar num "design" e rotulagem mais criativos para promover aquele néctar algarvio. |