O «Vinho dos Mortos», um dos ex libris de Boticas, vai dispor de um pequeno museu que pretende preservar a história deste vinho, que é enterrado, e impedir a sua extinção, disse fonte da autarquia.
Actualmente, são poucos os viticultores que se dedicam à produção do «Vinho dos Mortos» nos moldes tradicionais e, para impedir a sua extinção, a autarquia e a Cooperativa Agrícola de Boticas (Capolib) estão a desenvolver um plano que passa pela recuperação e preservação deste produto.
O Repositório Histórico do «Vinho dos Mortos», obra que está a ser concluída na Granja, é uma das etapas desse plano e vai funcionar como uma espécie de «museu vivo», onde representa todo o processo de «fabrico» daquele néctar.
O nome do vinho pode parecer um pouco macabro mas deriva de um facto histórico ligado às invasões francesas.
Quando em 1807 as tropas francesas, comandadas pelo general Soult, invadiram pela segunda vez Portugal, o povo, com medo que estes lhes pilhassem as suas colheitas e outros bens, escondeu o que conseguiu.
Segundo a fonte da autarquia, o vinho foi enterrado no chão das adegas, no saibro, debaixo das pipas e dos lagares.
Mais tarde, depois dos franceses terem sido expulsos, os habitantes recuperaram as suas casas e os bens que restaram e, ao desenterrarem o vinho, até o julgaram estragado.
Porém, descobriram que estava muito mais «saboroso» e que «tinha adquirido propriedades novas».
«É uma vinho com uma graduação de 10 a 11 graus, palhete, apaladado, e com algum gás natural, resultante da fermentação no escuro e a uma temperatura constante», explicou à Agência Lusa o produtor Armindo Sousa Pereira.
Este pequeno viticultor é um dos poucos que, em Boticas, ainda produz o «Vinho dos Mortos» nos seus moldes tradicionais, de acordo com a técnica que já aprendeu com os seus pais.
Por ter sido «enterrado», ficou a designar-se por «Vinho dos Mortos» e passou a utilizar-se esta técnica, descoberta ocasionalmente, para melhor o conservar e optimizar a sua qualidade.
As cerca de mil garrafas que Armindo Sousa Pereira produz anualmente são enterradas em finais de Abril ou Março, no chão de saibro da sua própria adega e «até não precisa de ser a grande profundidade».
«O importante é que as garrafas fiquem enterradas», sublinhou.
Entre Julho e Agosto, as garrafas são desenterradas e o néctar fica pronto para beber.
O produtor diz que são muitos os turistas e apreciadores que se deslocam a Boticas de propósito para comprar uma garrafas deste vinho histórico.
Há alguns anos, o «Vinho dos Mortos» foi também um dos temas centrais que uma televisão japonesa gravou na região do Alto Tâmega.
E é esta tradição e esta história que o Repositório do Vinho dos Mortos pretende preservar e dar a conhecer.
Naquele pequeno edifício em granito vai ser colocado um lagar em pedra, alguns objectos ligados à produção do vinho e painéis descritivos desse processo e da história que deu origem à sua denominação.
O espaço exterior será também tratado, adornado com videiras em latada e possuirá em exposição alguns objectos relacionados com o vinho que possam ser mantidos ao ar livre, como tinas ou vasilhas em granito. |