Os empresários portugueses começam a despertar para o mercado polaco. Este negócio conta com dez lojas.
Os sons da música polaca só há pouco conquistaram Alberto Filipe, mas a cidade de Poznan desde o primeiro encontro o encantou. Foi à Polónia a primeira vez em 1997, a convite da Jerónimo Martins. Objectivo: estudar o mercado para abrir um negócio nas gráficas de impressão de grandes formatos. Nessa viagem, sentiu não ser o momento. Quando lá voltou, em 2002, os seus olhos viram outras oportunidades. De um dia para o outro fez as malas, criou uma empresa, a Nor Polska, e passou a dividir o seu tempo entre Portugal e a Polónia. Uma curiosidade: faz a viagem de carro, todos os meses, por não gostar de andar de avião.
A vontade de investir no país, para muitos considerado o palco central de operações na Europa, levou-o a desafiar um outro cliente, a Unicer, para representar os seus produtos na Polónia. Começou por fazer uma experiência na grande distribuição, mas percebeu que eram necessários grandes volumes de produto e... de dinheiro. Tentou o canal alimentar através dos restaurantes, mas também eram muitas as dificuldades. Os problemas de cobrança e o domínio do mercado dos vinhos italianos e franceses fê-lo perceber que tinha de vender directamente ao consumidor. Foi então que nasceu a Adega, onde se vendem vinhos Mazouco, Planura ou Mateus Rosé, cervejas Super Bock e cafés Bogani.
"A receptividade tem sido muito boa. As vendas na primeira loja ficaram acima das expectativas. Hoje é o cliente que nos faz perguntas sobre os vinhos portugueses e procura alternativas de outras regiões, como acontece com o vinho do Porto, por exemplo", refere Alberto Filipe.
O conceito fez sucesso e os vinhos portugueses começaram a ser apreciados pelos polacos. De tal forma que se justificou a abertura de uma segunda loja, e uma terceira, e uma quarta. Hoje são dez e até ao final do ano poderão ser 15, a confirmar-se o desejo deste empreendedor português. A Adega passará a estarem várias cidades entre as quais Varsóvia, onde se encontram outras marcas portuguesas, como o Millennium que é hoje o 8º banco mais importante na Polónia, a Jerónimo Martins com a rede de lojas Biedronka, líder no hard discount, os sabonetes Ach Brito que misturam odores com outras marcas internacionais vendidas numa loja requintadíssima da capital, ou os sabores portugueses do restaurante Portucale que serve, além dos pratos portugueses, cafés Delta e vinhos nacionais aos polacos.
Estratégia é obrigatória
Na Polónia a concorrência é feroz. Lá somente os fortes sobrevivem. "A nossa estratégia está muito ligada ao desenvolvimento do produto e da implementação no mercado. Ausculta-se muito o consumidor no ponto de venda para perceber o que ele quer, o que mais aprecia, quais as suas necessidades de forma a dar o que ele procura", explica António Jorge, director-adjunto de marketing vinhos da Unicer. Apesar da empresa não revelar valores, afirma que a Polónia é o segundo maior mercado, logo a seguir ao Canadá.
Com cerca de 40 milhões de habitantes, quatro vezes o tamanho de Portugal, uma população maioritariamente jovem e uma das economias mais competitivas do mundo, a Polónia poderá trazer uma nova luz às marcas portuguesas. É um país muito aberto ao investimento estrangeiro o que pode facilitar a expansão das empresas nacionais para os mercados do Leste. Segundo dados do ICEP em Varsóvia, existem 33 empresas polacas com capitais portugueses, mas muitas outras estão a estudar a Polónia para entrar nos próximos seis meses. Prova que o pequeno Portugal deixa marca em grandes mercados internacionais. |