A investigação aplicada a um sector tão tradicional como o vinho é uma das características que transformam o grupo num projecto quase único.
Quando, em 1990, a Dão Sul surgiu no muito tradicional sector dos vinhos, tudo apontava para que fosse mais uma sociedade a explorar os recursos naturais de uma das regiões vitivinícolas demarcadas pelo traço do legislador.
Quinze anos depois, no meio de empresas que lidam todos os dias com tecnologia, a Dão Sul é distinguida como uma empresa inovadora pela Cotec. Porquê? Porque tem vários factores que a distinguem das suas congéneres e não se limita a ver crescer as uvas nos galhos podados das videiras.
Desde há alguns anos que a Dão Sul optou por fazer coincidir os interesses na produção de vinhos com as virtudes da investigação científica aplicada à prática da agricultura. Nesse quadro, criou a Unitec - juntamente com a Universidade de Aveiro e com a Agência de Inovação (AdI), entre outros parceiros - através da qual, como explicou ao Diário Económico o presidente do grupo, Casimiro Gomes, “se faz investigação aplicada”.
Neste momento, disse, a Unitec tem em mãos pelo menos três projectos inovadores que merecem registo para memória futura: investigação ao nível da estabilização dos vinhos - fundamental nomeadamente para o seu envelhecimento em condições ideais; a monitorização de um modelo matemático para as colheitas; e um estudo aprofundado sobre as proteínas existentes no vinho.
Todos eles, adiantou Casimiro Gomes, são pistas para compreender - mas também para dirigir - a agricultura do futuro, que em última análise existe para reduzir ao mínimo factores externos à agricultura, que induzem perdas na produção.
Ao mesmo tempo, a Dão Sul tem um dos seus quadros a produzir investigação no âmbito de um doutoramento, através do qual “se pretende também validar processos de futuro na agricultura”.
Paralelamente, a Dão Sul continua a implantar uma estratégia de crescimento dos seus interesses, preparando-se para nova fase de crescimento, quer em Portugal quer no Brasil.
A decisão tem a ver com o facto de “a Dão Sul não ser nem uma empresa grande, nem pequena; estamos no meio da ponte e precisamos de nos virar para um dos lados”, disse Casimiro Gomes - que, com os seus três sócios, optou por seguir em frente ao invés de voltar para trás.
Neste momento, e para além do Dão e do Brasil, o grupo possui interesses produtivos instalados na Bairrada, no Douro e na Estremadura. Para além disso, investiu também no eno-turismo e na restauração - sendo, nestas áreas, responsável pela preservação de património.
Produzir vinho no paralelo 8
Um dos projectos mais interessantes que o grupo Dão Sul tem em mãos, segundo Casimiro de Almeida, é o da produção de vinho em região subtropical. Há alguns anos que a Dão Sul decidiu diversificar e internacionalizar os seus interesses produtivos. Nesse âmbito, considerou que a América do Sul - uma das mais importantes regiões produtivas do chamado novo mundo (dos vinhos) - seria a aposta certa. E passou a produzir vinho no paralelo 8 (isto é, muito próximo do Equador), coisa que vários agentes do sector consideravam uma impossibilidade completa.
“O projecto tem corrido muito bem e actualmente atingiu uma dimensão que não estava prevista”, adiantou Casimiro Gomes. A monitorização dos processos ao nível da investigação científica é, neste quadro, fundamental. Até porque o projecto do paralelo 8 é inovador em termos do sector dos vinhos: “neste momento, e por causa do Brasil, conseguimos abastecer o mercado com produção contínua”. O caso do Brasil é um dos exemplos mais interessantes do que é possível fazer, segundo Casimiro Gomes, quando a investigação científica se alia à produção no terreno. Neste caso, as portas que se abrem por via do projecto não estão, para já, totalmente definidas, mas o grupo crê saber que é esse o caminho.
Dão Sul
Fundação: 1990
Sede: Quinta de Cabriz, Apartado 28, 3430-909, Carregal do Sal
Capital social: dois milhões de euros
Accionistas: Casimiro Gomes, Carlos Lucas, Joaquim Almeida e Joaquim Coimbra
Actividade: produção e vinificação de uvas e comercialização de vinhos. Eno-turismo e restauração.
Trabalhadores: 42
Volume de negócios: cerca de vinte milhões de euros (estimativa). O grupo prefere adiantar que vendeu seis milhões de garrafas em 2005. |