Vinhos europeus ameaçados pela concorrência externa
Diário de Notícias | 23-06-2006

A comissária europeia da Agricultura, Marianne Fischer Boel, advertiu que o sector do vinho na UE "está a caminhar para uma crise, apesar de todas as nossas vantagens naturais".

Este alerta foi dado, ontem em Bruxelas, quando a comissária apresentava algumas ideias para uma futura reforma do sector europeu do vinho, incluindo o arranque de vinhas pouco rentáveis, a abolição da destilação, a par da actualização e simplificação da rotulagem e das práticas vinícolas. Com medidas como estas, a Comissão pretende equilibrar o mercado, em que a oferta é excedentária, aumentar a competitividade, preservar as zonas rurais e simplificar as normas para produtores e consumidores.

Segundo as estatísticas da Comissão, o consumo do vinho está a descer regularmente na UE, embora se registe um aumento na venda de produtos de qualidade.

Ao mesmo tempo, ao longo dos últimos dez anos, o aumento anual das importações, de países como a Austrália, a África do Sul ou a China, foi de 10 por cento, enquanto as exportações se verificam a um ritmo cada vez mais lento. Com tais tendências, a Comissão prevê que o excesso de produção vinícola atinja 15 por cento da produção anual até 2010/11.

Segundo a comissária, "produzimos demasiado vinho na Europa para o qual não há mercado. Gasta-se demasiado a eliminar excedentes em vez de se induzir a qualidade e a competitividade. Há normas demasiado complexas que entravam os produtores e confundem os consumidores". 

A comissária pretende reactivar o regime de arranque da vinha, a título voluntário, com um prémio "a 
níveis aliciantes que encoraje os produtores menos competitivos a abandonarem o sector". O objectivo é o arranque de 400 mil hectares em cinco anos, numa área total de 3400 milhões de hectares, com um montante máximo de ajudas de 2400 milhões de euros.

A chamada "destilação de crise", para transformar o vinho excedentário em álcool industrial ou biofuel, seria abolida. Também se pretende proibir a utilização de açúcar para aumentar o teor alcoólico do vinho.

A Comissão pretende chamar a si a responsabilidade do reconhecimento de novas práticas vinícolas, de forma a tornear pressões nacionais ou de lobbies industriais, e simplificar os procedimentos, incluindo uma rotulagem mais simples.

Segue-se o debate destas propostas, de forma a possibilitar a apresentação, até ao fim do ano, de um projecto consistente de reforma do sector.

Numa primeira reacção a estas propostas, as organizações europeias de agricultores, COPA e COGECA, manifestaram-se "desapontadas".

Embora reconheçam que tais ideias vem ao encontro de algumas das suas preocupações quanto ao sector, estas organizações consideram que o arranque de vinhas "ira destabilizar varias regiões vinícolas na UE e conduzir a problemas ambientais".
 
 
 
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