A menos de 20 quilómetros de Lisboa, ainda há quem faça questão de manter viva a tradição saloia da cultura da vinha tal como ela existia no princípio do século passado.
Em Bucelas, concelho de Loures, são os populares que animam a Festa do Vinho e da Vindimas, que viveu este fim- -de-semana a sua vigésima edição. Ontem, milhares de pessoas assistiram ao desfile etnográfico, o ponto mais alto das comemorações.
Dezenas de figurantes, vestidos como manda a tradição saloia, percorreram as ruas da vila, cantando músicas antigas associadas à cultura vitivinícola. Acompanhavam-nos 27 carros alegóricos, alusivos às várias fases do cultivo da vinha, fabrico do vinho e processos associados, preparados pelas colectividades da vila e aldeias vizinhas.
Pelas ruas enfeitadas com parras, seguiam os vários carros, cada um com seu tema. Da enxertia à taberna, passando pela poda, pela sulfatação e pela vindima. Ao cortejo também não faltavam outras figuras indispensáveis ao trabalho dos camponeses, como o cesteiro, o tanoeiro e o ferreiro.
Na frente do cortejo, guiando um carro de vacas, Bernardino Feliciano, 70 anos, não precisava de fazer grandes mudanças no visual para se integrar no desfile, ou não fosse ele o dono dos animais e agricultor de profissão. Apesar de admitir que a forma de trabalhar o campo "tem mudado bastante", a vontade de manter a tradição e de mostrar que "em Bucelas é tudo boa gente" fá-lo participar na Festa do Vinho e das Vindimas há mais de 10 anos.
Apesar de Carla Santos, 33 anos, não ter ligação profissional com o campo - é empresária no ramo da indústria -, há laços afectivos que a fazem gostar da ruralidade. "A vida dos meus avós, pais e tios foi no campo e a tradição toca-me muito", explica. Lenço na cabeça, vestida com camisa, saia e avental tipicamente saloios, Carla Santos segura ao colo a sua filha de apenas dois anos, também trajada a rigor. "Tenho esperança de que ela possa tomar o gosto por isto", confessa.
Além do desfile, os milhares de curiosos que se associaram à festa puderam provar e comprar vinho da região e apreciar as várias barraquinhas com artesanato e lavores feitos pelas colectividades bucelenses. |