Os seculares socalcos da Quinta do Vallado, que pertenceram à lendária Ferreirinha, produzem castas de vinhos do Douro internacionalmente premiados e seleccionados para as mesas do primeiro-ministro, José Sócrates, ou do clube inglês treinado por José Mourinho.
Implantada nas encostas do rio Corgo, junto ao Peso da Régua, a Quinta do Vallado é gerida pela dupla Francisco Ferreira (gestão agrícola e administrativa) e João Álvares Ribeiro (área comercial), que conta com a ajuda do enólogo Francisco Olazabal.
São todos familiares e descendentes de Dona Antónia Adelaide Ferreira, que viveu no século XIX e historicamente ficou conhecida como a «Ferreirinha», empresária que dedicou a sua vida à cultura da vinha e à produção de vinho, no Douro.
A Quinta do Vallado tem-se mantido na família Ferreira até hoje, indo já na sua sexta geração.
João Álvares Ribeiro só em Março deste ano começou a dedicar-se a tempo inteiro à quinta, depois de 25 anos no BPI, e é, com visível satisfação e orgulho, que fala nos prémios internacionais que os vinhos Vallado têm arrecadado sucessivamente nos últimos anos.
A quinta do Vallado ganhou por três anos consecutivos, no Internacional Wine Challenge de Londres, os troféus atribuídos ao melhor vinho do Douro e de Portugal.
Em 2005 venceu com o Quinta do Vallado Reserva Tinto 2003, em 2006 com o Reserva Tinto 2004 (ao qual foi também atribuído o troféu para melhor vinho português) e em 2007 com o monovarietal Touriga Nacional.
Segundo João Ribeiro, figurou também por duas vezes no Top 100 do Wine Spectador.
O reconhecimento internacional dos vinhos Vallado levou a que o Chelsea Football Club, onde é treinador o português José Mourinho, tivesse escolhido a quinta duriense como sua fornecedora de vinhos.
Os escolhidos pelo clube inglês foram o Vallado Branco 2006 e o Vallado Tinto 2005, dois vinhos do Douro produzidos em quantidades limitadas.
Também o primeiro-ministro, José Sócrates, escolheu o Vallado para, em Dezembro de 2006, oferecer aos líderes dos países com quem Portugal tem ligações diplomáticas.
Para João Ribeiro, é a «grande qualidade dos vinhos e a sua consistência» que estão na base do sucesso do Vallado.
«Os nossos vinhos mantêm a personalidade do Douro, possuem um equilíbrio entre a estrutura, o grau alcoólico, a elegância e acidez», salientou, por sua vez, Francisco Ferreira.
O «grande interesse pelos vinhos durienses» explica-se, segundo este responsável, por serem «diferentes», feitos com castas diferentes, em solos e até climas completamente diferentes.
A tradição secular de vender a sua produção à Casa Ferreira foi interrompida em 1993, quando, já sob a direcção de Guilherme Álvares Ribeiro e sua mulher, Maria Antónia Ferreira, a empresa decidiu alargar a sua actividade à produção, engarrafamento e comercialização de vinhos de marca própria.
Para o efeito, segundo João Ribeiro, foi necessário investir cerca de 2,5 milhões de euros para uma nova adega, com tecnologias adequadas à produção de vinhos de mesa brancos e tintos e ainda para armazéns para báricas, engarrafamento e rotulagem.
A replantação de dois terços da quinta contou com a orientação do professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Nuno Magalhães, e teve como objectivo a introdução de castas de grande qualidade e a mecanização dos trabalhos de viticultura.
Segundo Francisco Ferreira, a grande aposta incidiu na Touriga Nacional, casta que ocupa cerca de 40 por cento das novas vinhas, seguida da Touriga Franca (25 por cento) e de Souzão, Tinta Roriz, podendo ainda encontrar-se o Moscatel, Rabigato ou Viozinho.
O responsável diz que esta é mesmo a única quinta do Douro a produzir, com o Souzão, um vinho monovarietal.
O primeiro Vallado surgiu em 1995 e, dois anos depois, a quinta duriense conheceu o primeiro grande sucesso comercial com o Quinta do Vallado Tinto 97.
João Ribeiro salientou que este vinho «esgotou rapidamente» e ajudou a «marca Vallado a implantar-se rapidamente no mercado».
A exportação para 20 mercados, designadamente Estados Unidos da América, Brasil, Canadá, Inglaterra e países nórdicos, representa já 50 por cento da facturação total da quinta que, em 2005, alcançou os três milhões de euros.
O responsável referiu que, em breve, a sua quinta vai investir na ampliação da adega para mais 800 metros quadrados, dobrando a capacidade de produção para mais 600 mil garrafas, e na actualização da tecnologia.
Será ainda construída uma cave subterrânea de cerca de 1000 metros quadrados e com capacidade para 1000 barricas, destinada ao envelhecimento de vinhos de gama superior.
O Vallado quer também comprar uma quinta no Douro Superior para assegurar a continuidade de uvas de produção própria e de sub regiões diferentes.
Para tudo isto João Ribeiro prevê um investimento de mais 2,5 milhões de euros.
A grande aposta do Vallado vai também para o Enoturismo, tendo recuperado a casa principal de traça solarenga com capela armoriada construída em 1733, que se encontrava em ruínas há cerca de 100 anos.
Ali foram construídos 10 quartos, cinco para o turismo, e, em breve, serão acrescentados mais oito quartos
Outra das apostas dos empresários seraão programas de gastronomia que, segundo João Ribeiro, poderão passar pela vinda ao Douro de reconhecidos chefes que realizarão mini cursos de cozinha conjugados com a vinha e os vinhos. |