Casa do Douro defende aguardente da região para produção de vinho do Porto
Açoriano Oriental | 22-08-2007

A Casa do Douro defendeu hoje a utilização de aguardentes da região na beneficiação do vinho do Porto de forma a "minimizar" os prejuízos provocados pelo fim dos apoios à destilação previstos por Bruxelas.

Este foi um dos temas debatidos num encontro que reuniu cerca de uma centena de viticultores e autarcas da Região Demarcada do Douro (RDD) no salão nobre da Casa do Douro (CD), no Peso da Régua.

A reunião foi agendada pela CD e foi realizada na sequência de 14 encontros prévios que o organismo promoveu pelos concelhos da RDD para debater a reforma da Organização Comum do Mercado (OCM) do Vinho apresentada por Bruxelas e o Plano de Desenvolvimento Rural do Norte.

O presidente da CD, Manuel António Santos, sustentou que o Douro tem que encontrar soluções para colmatar os prejuízos que poderão ser provocados pelo fim dos apoios à destilação, nomeadamente ao chamado álcool de boca, que se mistura com o vinho do Porto, Madeira e vinhos moscatel.

A Comissão Europeia apresentou um projecto de reforma do sector do vinho que propõe o fim das ajudas à destilação, a abolição dos direitos de plantação e defende o arranque de 200 mil hectares de vinha por todos os países da União Europeia até 2013.

Estas alterações da política vitivinícola comunitária são "particularmente importantes" para o Douro, que utiliza anualmente na beneficiação do generoso, em média, o equivalente a 137 500 000 litros de aguardente das mais diversas proveniências.

O fim das destilações é uma medida que, para Manuel António Santos, vai produzir efeitos negativos na economia do vinho do Porto devido ao aumento dos preços da aguardente no mercado liberalizado.

"Quer queiramos quer não os subsídios vão desaparecer e o preço da aguardente vai subir, o que vai trazer reflexos logo na caminhada inicial do vinho do Porto, que sofrerá um agravamento de preços", frisou.
O responsável disse que a Casa do Douro já propôs à comissária europeia que, em regiões vitícolas como o Douro, "seja permitido um regime de apoio à destilação voluntária durante um número de anos a combinar".

"Queremos que esses apoios venham a diminuir gradualmente em vez de diminuiriam drasticamente de um momento para o outro. Isto permitirá que o sector do vinho se adapte às novas realidades", sustentou.

A destilação de vinhos da região é uma questão defendida pela Casa do Douro há vários anos e, se for concretizada, Manuel António Santos, diz que "melhorará significativamente o rendimento dos viticultores durienses", já que poderá ter repercussões no aumento do preço da pipa de vinho.

Os preços pagos na vindima de 2005 continuam em declínio quando comparados com os da vindima de 2000, estando os vinhos generosos ao nível dos que já foram praticados em 1997 e os vinhos de pasto ao nível dos de 1990.

Os viticultores consideram ainda que desta forma se estaria também a garantir a genuinidade do vinho do Porto, já que, actualmente, 20 por cento deste produto é feito recorrendo a aguardente importada de países como Espanha, França ou Itália.

O antigo presidente da Casa do Douro, Mesquita Montes, apresentou hoje um documento, efectuado com a colaboração da actual direcção do organismo, em que aponta soluções para a região duriense.

O ideal para o Douro, segundo Mesquita Montes, seria mesmo a "obrigatoriedade de utilização de aguardentes da região na destilação do vinho do Porto, admitindo em última instância poderem ser também estas oriundas das regiões limítrofes produtoras de vinhos".

O responsável defende a criação de um stock regulador de aguardentes, com gestão interprofissional e a definição, em sede interprofissional, do preço de aquisição de vinhos para destilar em cada campanha.

Defende também a redução do volume anual de benefício para 90 mil pipas, (para as quais serão necessários cerca de 15 milhões de litros de aguardente) e um estudo sobre a reformulação da distribuição de benefício pelas diferentes classes para que a redução do volume a beneficiar não afecte o rendimento global dos viticultores.

Manuel António Santos acrescentou que os viticultores durienses também "não entendem muito bem a proposta para o arranque de vinha até 2013 e a possibilidade de plantar livremente vinha a partir de 2014".
"É preciso que isto seja muito bem explicado e que o Governo diga claramente as suas opiniões", salientou.

Para Manuel António Santos a OCM do Vinho poderá "provocar uma alteração profunda no Douro", mudanças essas que diz "vão em muito contra os viticultores".

Na próxima quarta-feira volta a reunir-se o Conselho Vitivinícola da Casa do Douro que juntará as conclusões de todas as reuniões num documento para enviar ao Governo.

O objectivo é dar um contributo para a OCM dos vinhos, que vai marcar presidência portuguesa na área da agricultura, uma vez que Bruxelas quer vê-la em vigor a partir de 01 de Agosto de 2008.
 
 
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