Excesso: anualmente são "queimados" cerca de 200 milhões de litros
Portugal produz vinho a mais
Correio da Manhã | 12-11-2006

Os produtores de vinho portugueses estão a enviar anualmente para o mercado 200 milhões de litros a mais. De uma produção total de cerca de 800 milhões de litros, apenas 550 milhões são consumidos pelos portugueses. Para as exportações são destinados 50 milhões de litros.

“O restante é ‘queimado’ nas destilarias e transformado em licores ou aguardentes. A palavra excedentário é forte mas começa a enquadrar-se na realidade do sector”, referiu ontem o presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo, Joaquim Madeira, após a inauguração da Festa da Vinha e do Vinho, em Borba.

Para o número elevado de ‘sobras’ muito contribuiu, segundo Joaquim Madeira, o aumento dos hectares de vinha em Portugal. No Alentejo, por exemplo, a extensão da vinha duplicou nas últimas duas décadas.

“Tínhamos há 20 anos cerca de 11 mil hectares e hoje são 23 mil. Produzimos na região 30 milhões de litros de vinho e estamos actualmente a produzir 93 milhões de litros, 65 por cento dos quais tinto”, sublinhou o mesmo responsável.

Travão à produção

Para Joaquim Madeira, profissional do sector vinícola há mais de 30 anos, chegou a altura de dizer “basta”. “Crescemos demais e estamos actualmente no limite. Tudo o que se fizer a mais é excedentário e, por isso, temos que parar durante algum tempo para que no futuro possamos voltar a crescer, mas de forma mais moderada”, referiu ao nosso jornal o presidente da comissão vinícola alentejana, região onde existem 130 produtores de vinho e 230 comerciantes.

Com o mercado português completamente esgotado, a aposta dos produtores passa agora pelo crescimento das exportações, sobretudo para os países lusófonos. “Angola é um país com um bom mercado. Devemos também continuar a apostar no Brasil e na China, e reforçar a promoção em países como a França, Alemanha e Suíça”, acrescentou.

"Acabar com os bairrismos no sector" 

A Festa da Vinha e do Vinho, que ontem começou em Borba, conta apenas este ano com cerca de uma dezena de stands promocionais de adegas locais e de alguns de concelhos vizinhos. Uma fraca adesão dos produtores de todo o Alentejo criticada pelo presidente da Câmara de Borba, Angelo de Sá. “Temos que acabar com os bairrismos para bem do desenvolvimento da região e do sector. Quando terminar esta festa vamos iniciar contactos com as adegas e produtores do Alentejo para saber se estão interessados em participar nos eventos futuros”, disse.

O autarca, que considera esta festa como a “melhor do País dedicada ao vinho”, disse ainda ao CM que espera cumprir “o desejo de transformá-la nos próximos anos num evento nacional”. Até dia 19 de Novembro, são esperadas na 15.ª edição do evento mais de 70 mil pessoas.

No recinto da festa, situado junto à Zona Industrial de Borba, estão cerca de 90 expositores de artesanato, vinho e produtos regionais, com o queijo, os doces e os enchidos, e oito restaurantes.

 
 
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