Se as pessoas reagirem como os ratinhos, talvez um dia a cedência às tentações gastronómicas possa ter lugar sem riscos para a saúde.
Cientistas norte-americanos publicaram, na revista "Nature", um estudo que mostra que o resveratrol, uma substância presente no vinho tinto e na pele das uvas, compensa os efeitos negativos de uma dieta hipercalórica e pode prolongar a vida. Mas a constatação foi apenas feita em ratinhos obesos, por agora.
Há que fazer uma advertência: não vale a pena desatar a beber vinho tinto para tentar obter o mesmo resultado que os ratinhos. Isto porque os animais tomaram uma enorme dose de resveratrol, equivalente a 24 miligramas por cada quilo. Como o vinho tinto tem 1,5 a três miligramas de resveratrol por litro, uma pessoa de 75 quilos que quisesse garantir a mesma ingestão da substância teria de beber... 750 a 1500 garrafas de vinho por dia para obter a mesma dose.
Outra advertência, de cientistas que comentaram o estudo, é que não se deve seguir o exemplo de um dos coordenadores da investigação, David Sinclair, da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA). Ele toma uma dose de cinco miligramas de resveratrol por quilo (a mulher, os pais e metade do seu laboratório também, segundo contou ao jornal "The New York Times"). Há várias empresas a comercializar o produto, mas não se sabe ainda até que ponto ele é seguro ou eficaz.
No estudo agora feito, um grupo de ratinhos obtinha 60 por cento das calorias com uma dieta rica em gorduras. Não tardaram a aparecer sinais de que a diabetes estaria iminente, com o fígado a aumentar de tamanho, e os animais morreram mais cedo do que os que faziam uma alimentação saudável.
Outro grupo seguia o mesmo regime alimentar mas recebia resveratrol e os seus níveis de glucose e de insulina não eram elevados. Os ratinhos deste grupo morreram com uma idade parecida com a dos ratinhos com uma alimentação saudável.
Há um "mas": todos os ratinhos engordaram, como seria de esperar. Puderam ser glutões sem que a saúde pagasse, mas a "linha" ressentiu-se.
A ideia é desenvolver um fármaco que trave algumas consequências da obesidade, que se tornou uma epidemia nos países desenvolvidos. Sinclair fundou uma empresa, a Sirtris, que está a fazer ensaios em diabéticos com resveratrol. Mas, até à publicação dos resultados, Ronald Kahn, presidente do Centro sobre Diabetes Joslin, em Boston, aconselha prudência: "Neste momento, tudo o que faria era tomar outro copo de pinot noir." |