250 anos
Jornal de Notícias | 22-01-2006

Comemorações Organismos públicos e privados promovem vários eventos no 250º aniversário da Região Demarcada Falta de infra-estruturas, acessos e lixeiras a céu aberto são manchas na paisagem

Celebrar o Douro, a paisagem vitícola singular e suas gentes. Eis o mote das comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro, cuja proposta de programa foi ontem, aprovado no Teatro de Vila Real. "A efeméride pode contribuir para dar mais visibilidade à região duriense", diz Gaspar Martins Pereira, director de missão do Museu do Douro.

Dia 10 de Setembro de 1756. A mítica data assinala a instituição da Região Demarcada do Douro, o alvará régio da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. A partir daqui, a legislação impulsionada pelo marquês de Pombal fomenta um sistema de regulação e controlo da qualidade da produção e comércio dos vinhos. "Foi um acto de lucidez e de grande pioneirismo a nível mundial", reconhece o historiador da paisagem duriense.

Pois bem para testemunhar esse marco de enorme importância histórica para as gerações futuras, uma comissão de gente empenhada decidiu reunir boas vontades, iniciativas de diversos organismos públicos e privados ligados ao património do Douro, como as regiões de turismo, quintas associadas da Rota do Vinho do Porto, Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), entre outras instituições.

Festa Vínica na Régua 

A proposta de programa prevê o arranque das comemorações para finais de Março/Abril e entre as sugestões conta-se a realização do Festival "Vinus Durii", coordenado pelo IVDP e agendado para a segunda quinzena de Junho. Em linhas gerais, a iniciativa engloba conferências sobre ligadas à cultura do vinho e da vinha, como viticultura, enologia e desenvolvimento rural, exposições, visitas a cinco quintas do Douro, um evento vínico no cais da Régua.


Nos meses seguintes e até ao dia 14 de Dezembro, ou seja, a data de reconhecimento do Douro, Património Mundial da Humanidade, prevê-se uma multiplicidade de iniciativas edições de livros, como o "Inventário do Património Cultural da Real Companhia Velha", "O Marquês de Pombal e o Brasil", catálogos de fotografia, congressos e seminários sobre "O Douro Contemporâneo", onde são aguardadas comunicações de vários especialistas nacionais (Conceição Andrade Martins, Jaime Reis e Goreti Matias, ambas do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, bem como estrangeiros, como Norman Bennett, da Universidade de Boston e Paul Duguid, da Universidade de Berkley, Califórnia.

Entre os múltiplos eventos programados destaque-se, ainda, a realização de vídeos e filmes (João Botelho mostrará "Viagem ao Coração do Douro") exposições temáticas, como "A Tentação de Baco", de José Rodrigues e "Esquissos do Douro", com desenhos de Álvaro Siza. 

Música Pombalina

A realização do congresso mundial da Associação Internacional dos Juristas de Direito Vitivinícola, um festival internacional de jazz (agenda-se a participação de Lee Konitz), concertos de música clássica (assinalando os 250 anos de Mozart) e barroca portuguesa da época de Pombal, sem esquecer o rock e desfile de bandas filarmónicas.

"Tivemos como preocupação, agrupar as várias iniciativas das instituições e apresentar uma programação multifacetada. Quisemos dar-lhe um fio condutor e ao mesmo tempo coerência", sintetizou, ao JN, Gaspar Martins Pereira. O brinde da celebração dos 250 anos do Douro está a mobilizar as suas gentes. Espera-se que abandonem as tradicionais "quintas e muros" e que a data festiva sirva reclamar o cumprimento de promessas antigas, como a falta de infra-estruturas, acessibilidades, reconhecimento público efectivo da região. "A região tem sido esquecida. Tem havido demasiado festim e poucas obras. Faltam estradas dignas e é tempo de acabarem as lixeiras a conspurcar a paisagem", lembrou a empresária Laura Regueiro, vice-presidente da Liga dos Amigos do Douro-Património Mundial.

"Os 250 anos devem servir de pretexto para o lançamento de projectos estruturantes para a região. Já estamos fartos de ideias expressas em papel. Agora, é tempo de fomentar o desenvolvimento regional", reforçou Filipe Mergulhão, da Casa Agrícola de Cevêr, em Santa Marta de Penaguião.

Feita a apresentação breve e lacunar das comemorações, nunca será demais enaltecer o pioneirismo da iniciativa do Governo do marquês de Pombal, já que só muito depois, em 1855, a região de Bordéus foi instituída. Por isso, um brinde. Com Porto Vintage.
 
 
English