Se os portugueses estão, cada vez mais, rendidos ao charme dos cenários vínicos, os estrangeiros, sobretudo ingleses e franceses, há muito que lideram o rol de apaixonados. Espanhóis, brasileiros e alemães também estão nesta lista.
Os empresários, convictos de que a trajetória deste segmento turístico agora só conhecerá um sentido, o da subida, enumeram alguns factores com que justificam esta progressão tão positiva mas entre eles existe um denominador comum e prestam a devida vénia ao vinho. Um néctar de excelência que está a elevar pelo mundo fora o turismo e o país.
Para Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador no grupo Vila Galé Hotéis, este caminho ascendente pode ser explicado pelo maior esforço de promoção deste produto no estrangeiro e pelo reconhecimento da qualidade dos vinhos portugueses e das infraestruturas de alojamento. Sem esquecer a conquista da imprensa internacional que já considerou o Alentejo a melhor região vínica. Com este contexto, o responsável defende que o investimento, e estratégia, passe por ações de promoção no estrangeiro para aproveitar, inclusivamente, o aeroporto de Beja para dinamizar a região e desenvolver a combinação de itinerários pelo país. “O Alentejo e o enoturismo são reconhecidos a nível nacional, mas falta-nos a promoção não só por agentes especializados como dos generalistas”, acrescenta.
Todo este sucesso, para Sophia Bergqvist, proprietária e gestora da Quinta de La Rosa, no Pinhão, não é só do enoturismo “mas sim do turismo em geral em Portugal”. Considerando que em particular este ano o aumento foi bastante significativo, chama a atenção para a influência que terão tido os constrangimentos da Grécia e da Turquia, “para além do facto de Portugal ser um país muito barato”, frisa. Sophia Bergqvist salienta ainda que os vinhos são cada vez mais conhecidos – e bem vistos – no estrangeiro. No Douro, a realidade que melhor conhece porque é onde produz vinhos e recebe turistas, tem muitos visitantes que chegam à procura dos vinhos de que ouviram falar. “Embora para os portugueses, nomeadamente para os que vivem a Sul, o Douro seja psicologicamente longínquo, também eles começam a visitar mais o Douro”, acrescenta.
Melhorar a oferta do enoturismo, na sua opinião, passa por mais quintas abrirem as portas e criarem programas para entreter os visitantes, “que gostam de participar no dia a dia e viver a realidade da região. Os programas de vindimas são um sucesso”.
Quanto ao investimento, afirma que na realidade duriense fazem falta mais quartos, atividades lúdicas e bons restaurantes. “O investimento não pode ser para turismo de massas, mas de nicho. O Douro tem que se preservar, mantendo a génese e paisagem que o levou a ser classificado como Património da Humanidade”, conclui.
A esta lógica de tudo fazer para evitar a massificação junta-se a voz de Jacinta Sobral, proprietária da Serenada, em Grândola. Para a empresária, o enoturismo é uma diferenciação do turismo no sentido genérico, no qual se realça o papel singular não só da região mas também do produtor. “No fundo constitui uma alternativa à massificação”, realça. E com este fio condutor, defende que a estratégia para o futuro e o investimento, passam obrigatoriamente por uma “aposta clara na sustentabilidade, no combate à sazonalidade, na identidade de cada produto, que se pretende único, na heterogeneidade do solo. Na valorização da produção pequena e artesanal”.
Aos olhos de quem administra os destinos da Malhadinha Nova, em Beja, ou seja, de Rita Andrade Soares, este êxito de que falamos explica-se, da mesma forma que se explica a evolução dos vinhos. “Tem sido incrível a evolução dos projetos de vinhos em Portugal: Hoje existem adegas notáveis, obras de arquitetos de renome ou recuperações de edifícios históricos, a que se juntam técnicos com formação, enólogos e viticultores. Assim como conceitos de viticultura e enologia muito modernos, ao nível do melhor que se faz em todo o mundo”, afirma. Consequentemente o perfil de vinhos mudou. E com todas estas condições, as adegas abriram-se ao visitante, proporcionando experiências de enoturismo com muita qualidade, diversidade e criatividade. Sobre o investimento, a responsável aponta, convicta, para a concentração na promoção internacional: “as adegas existem, as condições para receber o enoturista também mas o mundo tem de saber”.
Já Pierre de Lemos, pela Quinta de Lemos, em Viseu, fala de um sucesso sinónimo de evolução natural da importância do setor dos vinhos, combinado com a nossa aptidão para o turismo com regiões completamente diferentes e de uma beleza natural que nos deixa a todos orgulhosos”. E é diante deste panorama nacional tão positivo que Pierre de Lemos, convidado a olhar para o futuro, defende uma estratégia que passe pela organização regional das unidades de enoturismo, posicionando cada oferta, e fazendo a sua divulgação junto de agências que possam fazer a venda desses mesmos produtos.
É também na qualidade superior que Hugo Valadas, diretor do L’AND Vineyards Resort, em Montemor-o-Novo, coloca a tónica. Na sua opinião, Portugal tem conseguido alcançar esta trajetória ascendente através da implementação no mercado de produtos de qualidade superior, ao nível das infraestruturas turísticas e da qualidade dos vinhos.
“Portugal tem conseguido promover-se junto dos mercados turísticos com um produto diferenciador, não massificado e acima de tudo com value for money muito competitivo em relação aos concorrentes”. Sobre o investimento, crê que deve ser concentrado na melhoria do trabalho em rede. No caso particular do Alentejo aponta para uma reformulação “por completo” da atual rota dos vinhos de modo a que o turista e o visitante tenham uma experiência completa. “É necessário comunicar melhor e acima de tudo selecionar os parceiros que estão verdadeiramente empenhados na promoção do Alentejo enquanto destino de enoturismo”. Assim, defende que a estratégia de desenvolvimento passe, entre muitos outros aspetos, pela promoção conjunta dos diferentes atores e não na promoção individual. “Uma vez que os recursos, nomeadamente os financeiros são limitados, o Alentejo não pode nem deve disparar em todas as direções na captação de mercados”, conclui.
É por José Álvares Ribeiro, administrador e detentor da tutela do enoturismo da Symington, e em nome da Quinta do Bomfim, em Alijó, que se ujnta a toda esta equação um fator de peso: a gastronomia. “Do ponto de vista do consumidor há um interesse crescente em tudo o que é gastronomia e sempre houve interesse pelo vinho, o vinho ligado à cultura. E com isso aumenta a curiosidade sobre onde e como o vinho é produzido”, afirma. Para o empresário, os produtores já perceberam esta dinâmica. “Podemos abrir as portas aos nossos clientes e potenciais consumidores. É um ativo fantástico que temos, no sentido de colocar as nossas marcas na mente das pessoas. Temos todo o interesse nisto, dado que é uma forma de divulgar os nossos vinhos”. E prossegue dando o exemplo do enoturismo da Graham’s, em Gaia, que tem sido dos ativos mais eficazes em matéria de fidelização. “Eles passam pelo museu, pelo armazém, vêm vinhos de 1863 e ficam cativados. E vão-se lembrar do vinho do Porto Graham’s, mais facilmente do que de outra marca. É uma experiência”. |