Produtores algarvios contra intenção de extinguir CVR da região
Agroportal | 20-07-2006

Produtores de vinhos do Algarve criticaram hoje a intenção do Governo de reduzir para metade o número de comissões vitivinícolas regionais (CVR) e o pedido para que os vinhos algarvios e alentejanos tenham uma única comissão.

João Mendes, produtor de vinhos no Alvor, disse à agência Lusa que a eventual deslocação para o Alentejo dos serviços actualmente prestados pela CVR algarvia "pode trazer transtornos e atrasos consideráveis".
 
"A reunião de uma comissão que teria a seu cargo os vinhos do Alentejo, Algarve e Setúbal para certificar um vinho algarvio ou aprovar um simples rótulo poderia levar meses, o que dificultaria muito a nossa vida", exemplificou o empresário.
 
Terça-feira, em Bruxelas, o ministro da Agricultura, Jaime Silva, anunciou uma reforma da administração pública para o sector do vinho que contempla a redução, para metade, das entidades certificadoras e a "saída" do Estado das comissões vitivinícolas.
 
O ministro indicou que vai publicar ainda este mês o caderno de encargos para o concurso e sustentou que "é desejável" que apenas as actuais 16 comissões vitivinícolas se candidatem, convidando desde já "algumas das actuais CVR a concorrerem juntamente".
 
Acrescentou que o ministério "gostaria, por exemplo, que a Sul do Tejo houvesse uma única entidade certificadora que englobasse os vinhos do Alentejo e do Algarve".
 
Censurando aquela fusão, João Mendes observou que a liberdade concedida aos agricultores para que se organizem esbarra na obrigatoriedade de cumprir um caderno de encargos que considera demasiado exigente.
 
Aquele caderno, a publicar ainda em Julho, irá exigir que cada CVR tenha uma grande câmara de provadores, sofisticados laboratórios e outros requisitos, entre os quais um mínimo de 30 mil hectares de vinha na área a cobrir.
 
Os vinhos do Algarve contam com duas adegas cooperativas - Lagoa e Lagos - e cerca de uma dezena de produtores de quinta, que produzem um total de 2,5 milhões de litros de vinho, 800 mil dos quais certificados, dos quais comercializam 500 mil.
 
"Dizem-nos que nos dão toda a liberdade de organização, mas impõem-nos condições impossíveis de satisfazer", lamentou, questionando "porque não ter apenas uma comissão a nível nacional, com delegações em todo o País?".
 
Para João Mendes, que faz parte da actual CVR algarvia num lugar não remunerado, a alternativa poderia passar pela junção de todos os vinhos a sul do Tejo - Alentejo, Algarve e Setúbal - numa única comissão, com pequenas delegações nas capitais de distrito, "de forma a evitar burocracias".
 
Contudo, admitiu que "dificilmente os produtores do Alentejo concordarão com uma situação dessas".
 
Por seu turno, o presidente da CVR do Algarve, António Lacerda, disse à Lusa que a eventual extinção da comissão "põe em causa todo o trabalho desenvolvido na última década", que consistiu no alargamento da área do vinho algarvio e no apuramento das castas.
 
Contudo, admitiu que a extinção será "incontornável", devido à falta de dimensão da produção algarvia para cumprir o caderno de encargos a criar.
 
Observou que, tradicionalmente, a CVR algarvia sempre deu prejuízo, e que nos últimos anos só restabeleceu o equilíbrio financeiro devido às receitas da reconversão da vinha.
 
"Não vejo outra solução senão esta, mas quero admitir que há outra, a prestação de apoios financeiros através de protocolos com a Universidade do Algarve e as autarquias", apontou.
 
Por seu turno Rui Virgínia, produtor de vinhos no Algoz, concelho de Silves, criticou a intenção do ministro e recordou que há alguns anos atrás os produtores se uniram contra esse projecto, do então ministro Sevinate Pinto.
 
"É uma intenção que já se arrasta há muito tempo, e que na altura mereceu a crítica generalizada dos agricultores, com um abaixo-assinado subscrito por quase todos eles", disse.
 
 
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