Produtores de vinhos do Algarve criticaram hoje a intenção do Governo de reduzir para metade o número de comissões vitivinícolas regionais (CVR) e o pedido para que os vinhos algarvios e alentejanos tenham uma única comissão.
João Mendes, produtor de vinhos no Alvor, disse à agência Lusa que a eventual deslocação para o Alentejo dos serviços actualmente prestados pela CVR algarvia "pode trazer transtornos e atrasos consideráveis".
"A reunião de uma comissão que teria a seu cargo os vinhos do Alentejo, Algarve e Setúbal para certificar um vinho algarvio ou aprovar um simples rótulo poderia levar meses, o que dificultaria muito a nossa vida", exemplificou o empresário.
Terça-feira, em Bruxelas, o ministro da Agricultura, Jaime Silva, anunciou uma reforma da administração pública para o sector do vinho que contempla a redução, para metade, das entidades certificadoras e a "saída" do Estado das comissões vitivinícolas.
O ministro indicou que vai publicar ainda este mês o caderno de encargos para o concurso e sustentou que "é desejável" que apenas as actuais 16 comissões vitivinícolas se candidatem, convidando desde já "algumas das actuais CVR a concorrerem juntamente".
Acrescentou que o ministério "gostaria, por exemplo, que a Sul do Tejo houvesse uma única entidade certificadora que englobasse os vinhos do Alentejo e do Algarve".
Censurando aquela fusão, João Mendes observou que a liberdade concedida aos agricultores para que se organizem esbarra na obrigatoriedade de cumprir um caderno de encargos que considera demasiado exigente.
Aquele caderno, a publicar ainda em Julho, irá exigir que cada CVR tenha uma grande câmara de provadores, sofisticados laboratórios e outros requisitos, entre os quais um mínimo de 30 mil hectares de vinha na área a cobrir.
Os vinhos do Algarve contam com duas adegas cooperativas - Lagoa e Lagos - e cerca de uma dezena de produtores de quinta, que produzem um total de 2,5 milhões de litros de vinho, 800 mil dos quais certificados, dos quais comercializam 500 mil.
"Dizem-nos que nos dão toda a liberdade de organização, mas impõem-nos condições impossíveis de satisfazer", lamentou, questionando "porque não ter apenas uma comissão a nível nacional, com delegações em todo o País?".
Para João Mendes, que faz parte da actual CVR algarvia num lugar não remunerado, a alternativa poderia passar pela junção de todos os vinhos a sul do Tejo - Alentejo, Algarve e Setúbal - numa única comissão, com pequenas delegações nas capitais de distrito, "de forma a evitar burocracias".
Contudo, admitiu que "dificilmente os produtores do Alentejo concordarão com uma situação dessas".
Por seu turno, o presidente da CVR do Algarve, António Lacerda, disse à Lusa que a eventual extinção da comissão "põe em causa todo o trabalho desenvolvido na última década", que consistiu no alargamento da área do vinho algarvio e no apuramento das castas.
Contudo, admitiu que a extinção será "incontornável", devido à falta de dimensão da produção algarvia para cumprir o caderno de encargos a criar.
Observou que, tradicionalmente, a CVR algarvia sempre deu prejuízo, e que nos últimos anos só restabeleceu o equilíbrio financeiro devido às receitas da reconversão da vinha.
"Não vejo outra solução senão esta, mas quero admitir que há outra, a prestação de apoios financeiros através de protocolos com a Universidade do Algarve e as autarquias", apontou.
Por seu turno Rui Virgínia, produtor de vinhos no Algoz, concelho de Silves, criticou a intenção do ministro e recordou que há alguns anos atrás os produtores se uniram contra esse projecto, do então ministro Sevinate Pinto.
"É uma intenção que já se arrasta há muito tempo, e que na altura mereceu a crítica generalizada dos agricultores, com um abaixo-assinado subscrito por quase todos eles", disse. |