Empresas de vinho do Porto preocupadas com insolvência da Casa do Douro
iOnline | 15-01-2015

À venda poderá ser colocado em simultâneo um 'stock' de cerca de nove milhões de litros de vinho do Porto

As empresas de vinho do Porto estão “extremamente preocupadas” com o pedido de insolvência da Casa do Douro (CD), no Peso da Régua, temendo que seja colocado à venda em simultâneo o vinho da instituição.

“Numa insolvência tudo é posto em causa. O tribunal pode decretar uma venda e as coisas, se não forem controladas, podem ser extremamente complicadas para todo o setor”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP, António Saraiva.

A Direção-Geral do Tesouro e Finanças entregou no dia 31 de dezembro, no Tribunal de Vila Real, um pedido de insolvência da CD. Neste processo é referido o valor em dívida para com as Finanças, de cerca de 124,6 milhões de euros.

Em 2014 e para resolver o problema da organização, o Governo preparou um plano que incluía um acordo de dação em cumprimento, que implicava troca de dívida por vinho, e uma alteração legislativa para transformar o estatuto de direito público e inscrição obrigatória em associação de direito privado e de inscrição voluntária.

O acordo de dação não foi assinado e, no mesmo dia em que foi extinta a dimensão pública da CD, o Estado avançou com o processo de insolvência.

Com medo do que pode acontecer agora, António Saraiva salientou que as empresas “estão em polvorosa”.

À venda poderá ser colocado em simultâneo um ‘stock’ de cerca de nove milhões de litros de vinho do Porto.

A acontecer, segundo o responsável, os preços podem baixar significativamente e, para além disso, a procura de vinho aos produtores pode baixar na próxima vindima.

“A lavoura duriense está com grandes dificuldades e se houver compradores para esses vinhos, e sendo vinhos velhos com capacidade de venda maior, fará com que na vindima haja menos procura de vinhos e as repercussões na lavoura podem ser um desastre”, frisou.

António Saraiva referiu que as empresas sempre quiserem fazer parte da solução e não do problema, lembrando que, durante o processo negocial do dossiê CD, se mostraram disponíveis para contribuir.

No entanto, defendeu que os vinhos teriam que ser colocados à venda gradualmente e num prazo “que nunca poderia ser inferior a 15 ou 20 anos”, para “evitar perturbações no mercado”.

“Num processo de insolvência as coisas fogem um pouco ao controlo, não há esse tipo de negociações, as coisas são postas à venda”, sublinhou.

Com a extinção da CD “pública”, cessou também a representação da produção no Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), onde marca também presença o comércio.

“Neste momento não há conselho interprofissional. Como a CD perdeu o seu caráter público, o conselho, tal como foi pensado, sem produção não pode existir”, considerou António Saraiva.

O responsável afirmou que o Douro não pode continuar com esta indefinição por muito mais tempo e sublinhou que “há demasiados dossiês na região que é preciso estudar e trabalhar”.

“O Douro está a perder vendas todos os anos, entre 2 a 3%. É preciso um conselho interprofissional e não sabemos quando é que nos podermos voltar a sentar a uma mesa para discutir sobre esses problemas”, frisou.

Lusa
 
 
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