Algumas pessoas são intolerantes aos sulfitos presentes no vinho. Foi por isso que a Universidade de Aveiro criou uma alternativa inovadora que permite substituir os sulfitos por um ingrediente natural, extraído da casca de mariscos, um polissacarídeo denominado de quitosana.
Mas isso não vai causar problemas às muitas pessoas com alergia ao marisco? É para dar uma resposta cabal a esta questão que a Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) vai dar início a um ensaio clínico. O objectivo é testar os efeitos do vinho sem sulfitos mas com adição de quitosana em pacientes com alergia ao marisco.
O ensaio vai arrancar este mês e será dirigido aos pacientes que são seguidos na consulta externa de Imunoalergologia do Centro Hospitalar São João.
"Pretendemos recrutar 20 adultos com diagnóstico de alergia grave ao marisco para testarmos os efeitos deste vinho sobre o seu sistema imunológico. A nossa expectativa é que os pacientes não apresentem qualquer sintoma alérgico, uma vez que, embora o composto (quitosana) que substitui os sulfitos possa ser proveniente de casca de crustáceos, não contem as proteínas causadoras da alergia", explica André Moreira, responsável pelo estudo clínico.
O ensaio será conduzido por médicos alergologistas da FMUP nas instalações do Serviço e Laboratório de Imunologia desta Faculdade e no Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar de São João.
Depois de informados, os voluntários vão realizar testes cutâneos por picada para avaliar a reacção ao vinho (com e sem quitosana). Posteriormente, ser-lhes-á pedido que ingiram pequenas doses de vinho, com intervalos de 15 minutos. Os testes serão apresentados como positivo (existência de sinais alérgicos) ou negativo (inexistência de sinais alérgicos).
O ensaio cumpre todos os protocolos de segurança e os voluntários estarão sempre a ser supervisionados por uma equipa médica experiente.
Usados no processo de vinificação para evitar a propagação de bactérias e a oxidação, os sulfitos podem causar dores de cabeça, náuseas, irritações gástricas e dificuldades respiratórias, que se manifestam mais em pacientes asmáticos.
Já a quitosana é um polissacarídeo obtido através da casca dos mariscos e de alguns fungos. As suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes são bem conhecidas.
Os vinhos foram preparados pela empresa produtora de vinhos Dão Sul, S.A., de Carregal do Sal. Esta tecnologia poderá revolucionar o processo de vinificação sem acarretar mais custos nem alterar as práticas enológicas comuns a todas as adegas.
Caso os resultados do ensaio clínico sejam os previstos, no futuro, os investigadores de Aveiro pretendem ainda passar dos vinhos para outro género de produtos onde possa haver a adição de anidrido sulfuroso, como o caso dos sumos. |