Provêem dos melhores solos da Bairrada e eram já apreciados por D. Afonso Henriques. A par do critério e cuidado enológico a aposta centra-se na valorização da Baga, que fornece tintos distintos e espumantes diferenciadores. Um tinto com 20 anos de garrafa e um Cuvée espumante são novidades para o Natal.
Não é certamente por acaso que nos vinhos da Adega de Cantanhede os rótulos remetem em regra para um imaginário de nobreza e monarquia, coisas que têm até muito pouco que ver com o estatuto de cooperativa que comanda a vida daquela entidade.
É que a qualidade dos vinhos daquelas terras afirmou-se no período da realeza e era já reconhecida e muito apreciada desde os tempos anteriores à portugalidade. Tanto que logo após a fundação da nacionalidade D. Afonso Henriques decretou que só por ali autorizava o plantio de vinha desde que lhe fosse entregue um quarto do vinho produzido. E também D. Manuel I, quando concedeu à vila o respectivo foral, determinou o pagamento de um sexto da produção de vinho, que os agricultores entregariam anualmente na adega de Cantanhede. Não a actual, mas antes aquela que a realeza por ali mantinha, sinal do apreço pelos vinhos desde sempre produzidos nas terras da região.
É essa singularidade que continua a distinguir os vinhos da Bairrada, como resultado da combinação das específicas condições de solo, clima e enquadramento geográfico. As qualidades de solo e clima, o famoso terroir, como hoje é comummente designado, associadas à forte aposta nas castras tradicionais da região, são a grande mais-valia da Adega de Cantanhede.
Mantendo embora o estatuto de cooperativa, adoptou há muito um modelo de gestão empresarial, a que juntou modernos equipamentos e uma equipa enológica de vanguarda, actualmente liderada por Osvaldo Amado. Com cerca de 700 associados instalados nos melhores solos da região, a adega recebe anualmente à volta de seis milhões de quilos de uva, cuja produção controla e selecciona. Números que representam perto de 40% da produção total da Bairrada e dão origem a mais de três quartos dos vinhos com os selos Bairrada ou Beira Atlântico, as duas denominações da região.
Com uma posição que claramente a distingue no panorama cooperativo - seja no plano da gestão e resultados ou ao nível da qualidade dos produtos -, a Adega de Cantanhede tem sido desde sempre um caso à parte. Foi também pioneira na comercialização de vinhos engarrafados, em 1963, numa altura em que apenas se vendia a granel, apostando na valorização dos seus vinhos e no carácter diferenciador das condições e castas da região
Ainda hoje a grande bandeira é a Baga e o seu valor diferenciador. E com a enorme vantagem de praticamente todos os seus associados estarem localizados na zona considerada como o santuário da casta, o triângulo Cordinhã, Ourentã, Cantanhede. Terrenos argilo-calcários e de tipo arenoso onde reconhecidamente a Baga melhor de expressa e de onde saem os vinhos mais valiosos da Bairrada. Não é por acaso que a Adega de Cantanhede fornece actualmente quase todas as empresas da região. “Somos uma espécie de celeiro [de Baga] da região. Isso é o reconhecimento da qualidade dos nossos vinhos e do nosso trabalho, mas também sinal de que queremos ser um parceiro forte na afirmação da região e na qualidade dos seus vinhos”, explica Osvaldo Amado.
“A qualidade é alta e é preciso agora postar na sua divulgação” diz o enólogo que integra um grupo de trabalho com esse propósito recentemente criado no seio da Comissão Vitivinícola da Bairrada.
Qualidade a bom preço
Quanto à adega, o objectivo é competir ao nível dos nomes mais sonantes da região e quebrar o preconceito que ainda hoje existe em relação aos vinhos de cooperativas. “Temos os melhores terrenos, critério e metodologia na adega, trabalhamos com dois dos melhores produtores de barricas do mundo [franceses] e ainda por cima com uma relação qualidade-preço sem par”, sintetiza o enólogo.
E o mundo vínico parece começar a dar-lhe razão. Ao longo deste ano os vinhos da Adega de Cantanhede somam já um total de 56 prémios em concursos realizados em vários países da Europa, e também Portugal. “Tantas como na década anterior”, como orgulhosamente referiu há dias o presidente Vítor Damião, na cerimónia que assinalou os 60 anos da cooperativa. Os principais responsáveis são três vinhos lançados este ano, que bem podem sintetizar o conceito do alargado portefólio da cooperativa.
Destaca-se o Espumante Branco de Baga Marquês de Marialva 2001, de sabor fresco e furtado, mas também cremoso e com uma mousse crocante que lhe dá a elegância dos grandes espumantes. Sabor e frescura bairradina e um excelente aproveitamento do alargado potencial da Braga, cujos cinco euros de preço o colocam ao alcance de todos.
Na mesma linha o branco Arinto Reserva 2012, um vinho gordo e envolvente e de enorme potencial gastronómico. E pelos mesmos cinco euros. Parte do lote estagiou em barricas novas de carvalho francês, domando os ímpetos da casta, que tanto o tornam apto para o consumo como para aenriquecedora guarda.
O tinto é o Foral de Cantanhede – Grande Reserva Baga 2009, resultante de uma criteriosa selecção de uvas. Um vinho de topo (19,90€), que saí de um lote de 100 barricas de entre as quais são seleccionadas as melhores 30 no final dos 14 meses de estágio. Foram engarrafadas 4224 garrafas e este será um vinho para ser apenas engarrafado em colheitas cuja qualidade o justifique. Tem os aromas da casta (cassis e frutos vermelhos) bem vivos e elegantes, corpo, estrutura, envolvência e uma carga de tanino e acidez que prometem décadas de rica e sadia evolução.
Duas novidades para o Natal
Para a época de Natal que ai está, a adega preparou também duas novidades, com as quais pretende dar uma ideia do potencial dos vinhos que enriquece nas suas caves e, ao mesmo tempo, reforçar a imagem de qualidade.
Especialmente aguardado é o tinto Confirmado, um Braga com vinte anos de garrafa que promete boa surpresa. O vinho é da colheita de 1991 e foi engarrafado em 1994. Todas as cinco mil garrafas do lote foram agora abertas e provadas, tendo sido seleccionadas apenas 1.660 cuja qualidade foi comprovada. Dai o nome e a grande expectativa.
A outra novidade é um espumante Cuvée Bruto Natural, que passará a ser engarrafado com data da introdução de rolha (degorgement). Trata-se de um Arinto “temperado”com Baga (15 a 20%) da colheita de 2010. Um espumante no melhor estilo bairradino, fresco e saboroso, com acidez, aroma, estrutura e volume de boca.
Ambos os vinhos estão já na fase de rotulagem, devendo estar à venda já nos próximos dias e com preços atractivos. |