Os produtores de vinho nacionais podem ainda não vender ao nível de outros congéneres europeus, mas nas medalhas não se ficam atrás.
No Vinalies Internacionales, em Paris, conquistaram 70 medalhas e no Berliner Wein Trophy, na Alemanha, arrecadaram 64. Mas foi no mercado-sensação, como é o chinês, que os produtores trouxeram maior número: 78 medalhas (28 de prata, 42 de ouro e oito de duplo ouro), mais concretamente dos China Wine & Spirits Awards (CWSA), considerados os Óscares do mundo do vinho na China.
Em entrevista ao Dinheiro Vivo, a presidente dos CWSA, Kelly England, explica como o consumidor chinês vê o vinho made in Portugal, e dá pistas ao produtores nacionais. Ver aqui noticia sobre valores de exportação.
Os vinhos portugueses conquistaram 78 medalhas nos CWSA. É sinal de que estão a ganhar terreno na China?
Os jurados - os mais proeminentes importadores, distribuidores e profissionais da hotelaria - gostaram realmente dos vinhos portugueses, mesmo em prova cega, e acreditam que são adequados para este mercado. Nas duas competições dos CWSA (Best Value e Prova Geral), os vinhos portugueses superaram as expectativas. Para a edição de setembro dos CWSA 2013 há mais 27% de vinhos portugueses inscritos face a 2012, o que é um bom presságio para Portugal vir a ser um key player.
Que aspetos do vinho português são valorizados pelo consumidor chinês?
Os compradores chineses consideram os vinhos portugueses de excelente qualidade e com um value for money, um atributo raro e valioso. Acham também que têm um sabor frutado rico, requintado, agradável e muito apropriado para acompanhar os seus pratos favoritos. Além disso, o CWSA notou a valorização da cultura portuguesa pelos consumidores chineses, seguindo os laços históricos com Macau. Neste sentido, o Portugal Wine Guide, distribuído aos 100 jurados destes prémios, está a ajudar os produtores a comunicar e a apresentarem os seus vinhos.
Como vê o possível crescimento dos consumidores de vinho nas cidades mais pequenas e menos conhecidas da China, também denominadas cidades Tier 2?
Os jurados do CWSA são selecionados de todas as regiões para dar um padrão global e preciso e adequado da China. Das cidades menos conhecidas, destaque para estas, com níveis interessantes de crescimento: Chongqing, uma cidade não costeira a ter em atenção. As importações de vinho em Chongqing e as áreas de Sichuan estão a crescer de forma explosiva devido à crescente e acelerada riqueza económica neste eixo. Acresce ainda que esta cidade é acessível por rio e assim beneficia consideravelmente de vantagens ao nível dos transportes. Tianjin é outra cidade a ter em conta pois funciona como abastecimento da poderosa Pequim e de grande parte do norte da China. Este antigo porto comercial é agora responsável por uma percentagem crescente de importações de vinho. Por fim, Qingdao, a capital tradicional da cerveja, com com património histórico ligado à cerveja alemã, está a verificar-se um interesse surpreendente pelo vinho devido também à tradição do consumo de bebidas. Ao beneficiar também da sua proximidade com vinhedos chineses, Qingdao está a consumir, quer os vinhos produzidos na China como vinhos internacionais importados de qualidade.
Como pode Portugal afirmar-se contra concorrentes de peso?
A China está apenas no início do seu interesse pelo vinho, o que, de acordo com o verificado noutras áreas de consumo, no interesse pela cultura internacional e na capacidade de rendimento, poderá tornar-se, em breve, no maior mercado do mundo para os vinhos. A França, Espanha e Austrália estão a ser muito agressivos no marketing das suas medalhas CWSA, o que faz com que certos vinhos brilhem. Agora é a hora de Portugal ter orgulho e manter a produção de vinhos de qualidade e bater seus rivais como forma de assegurar uma parte satisfatória e bem merecida do mercado, aqui na China. |