Encerramento de 23 adegas na última década não desanima cooperativas
Público | 03-02-2013

Federação Nacional das Adegas Cooperativas diz que o processo foi natural, hoje o país está a produzir menos vinho do que no passado.

Nos últimos dez anos fecharam 23 adegas cooperativas em Portugal e uma deixou de laborar uvas, mas os representantes do sector cooperativo ligado ao vinho e à agricultura acreditam que o modelo empresarial de cooperativa é resistente à crise e querem torná-lo mais competitivo e atractivo ao investimento. Os dados são da Federação Nacional das Adegas Cooperativas (Fenadegas) e sinalizam o fecho de adegas entre as campanhas vinícolas de 2001/2002 e 2011/2012.

Na década anterior encerram cinco adegas, o que mostra uma aceleração recente das falências no sector. A Fenadegas tinha 130 cooperativas ligadas ao vinho associados quando foi fundada, em 1982. Agora, com os fechos e ainda os processos de união e reintegração de meia dezena de adegas, restam uma centena na lista.

Costa e Oliveira, secretário-geral da Fenadegas, afasta a ideia de má gestão como explicação principal. "É uma incompreensão recorrente, à qual tenho muita aversão, a de dizer que as adegas fecham porque são geridas por um bando de saloios", critica. Para o responsável, a evolução histórica ajuda a perceber estes encerramentos: "As adegas cooperativas surgiram nos anos de 1950, quando os transportes eram ineficientes, obrigando quase à existência de uma ou mais cooperativas por concelho. E o país produzia 11 milhões de hectolitros, hoje produz seis. Com menos vinho produzido, algumas cooperativas tiveram de fechar."

Costa e Oliveira lembra também o papel da crise e da globalização. "A crise leva a um esmagamento dos preços em baixa, os produtores esperam vender o seu vinho premium de seis a nove euros nos Estados Unidos e lá querem comprar a 20, a 50 cêntimos", exemplifica.

Exemplos de sucesso

O delegado federativo reconhece haver "adegas a mais". "É doloroso ver uma adega a fechar, mas tem de haver diálogo entre cooperantes para saber se a existência da cooperativa ainda se justifica", explica. "Por outro lado, temos adegas de ponta que são exemplos internacionais", contrapõe.

As cooperativas pesam 46% na comercialização de vinho em Portugal. A aposta passa agora pela integração, pela venda de produtos em conjunto. "Já não acredito tanto nas fusões ou uniões, porque da união de duas não nasce necessariamente uma adega melhor, os produtores têm é de encontrar entendimentos estratégicos nas suas regiões", defende a mesma fonte.

Nas vinhas, o tempo é agora de poda. E na Confagri, a confederação que reúne as cooperativas agrícolas, incluindo a Fenadegas, aposta-se em podas legislativas. Aldina Fernandes, adjunta da secretaria-geral desta organização, defende alterações no Código Cooperativo que permitam "profissionalização e agilidade na governação das sociedades e acesso a investimento externo".

Com estas mudanças, a Confagri acredita que o sector cooperativo agrícola "terá mais hipóteses de concorrer com as grande cadeias de distribuição e a nível internacional".

"O sector tem mostrado muita resistência à crise, e não está provado que os encerramentos sejam maiores do que no sector privado. A imagem de que uma cooperativa é uma coisa débil é errada e há muitos exemplos de sucesso", conclui Aldina Fernandes.
 
 
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