A Comissão Europeia já foi notificada. Para já, produtores e distribuidores de vinho estão contra.
O governo está a estudar a hipótese de obrigar os produtores de vinho a mencionar no rótulo se a rolha utilizada é ou não de cortiça. A Comissão Europeia já foi notificada e o processo está em fase de consulta. Produtores e distribuição estão contra.
A ideia de ter no rótulo uma menção obrigatória ao tipo de vedante utilizado é do governo Sócrates, que deixou preparada legislação sobre a matéria.
“Reconhecemos o mérito da proposta mas entendemos ser importante, antes de avançar com a regulamentação, auscultar/discutir com os devidos sectores. Assim sendo, o actual governo decidiu notificar a Comissão Europeia e, em paralelo, consultar todas as partes interessadas – consumidores, distribuição, sector da cortiça e do vinho –, com o objectivo de testar compatibilidade com direito comunitário e identificar eventuais dificuldades ou impactos desta medida”, disse ao i o Ministério da Agricultura.
O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) já enviou um questionário às partes interessadas e os produtores de vinho e a distribuição manifestaram-se contra.
Miguel Champalimaud, um dos primeiro produtores a utilizar screw cap (tampa de enroscar) no seus vinhos, disse ao i que “o sector corticeiro capturou o sector de vinho da mesma maneira que a EDP capturou o sector da energia”.
O produtor dos vinhos Quinta do Côtto, que exporta 30% da sua produção, diz que se a medida é assim tão importante e as corticeiras acreditam que pode fazer a diferença, “os que querem a rolha de cortiça que o escrevam”.
Champalimaud diz que “do ponto de vista técnico, a screw cap é mais efectiva como vedante, melhor para conservar o vinho, melhor do ponto de vista económico-financeiro e até do ponto de vista ambiental, já que o alumínio é reciclável indefinidamente”.
Nos mercados externos há quem prefira a cortiça, como a Polónia ou a China, “e nós, no contrato que assinamos, deixamos bem claro que não há direito a reclamações”, mas também há quem goste mais de screw cap, como os ingleses.
Ainda assim, “o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território entende ser importante reforçar a ligação do vinho à cortiça e já está a trabalhar com as associações sectoriais no sentido de promover a menção do tipo de vedante na rotulagem, mas de forma voluntária”.
O ministério espera que o repto lançado aos sectores produza efeitos visíveis, incluindo acções de promoção que reforcem a sinergia entre vinho e cortiça. “Neste âmbito, o IVV está também a explorar a eventual possibilidade de recorrer a financiamento comunitário para este fim”, afirmou fonte oficial.
“Qualquer dia vão pedir que os remédios voltem a ter rolha de cortiça e que os refrigerantes e a cerveja voltem a usar a lâmina de cortiça como antigamente, e legislam nesse sentido. A pretensão é ridícula da parte de quem pede e de quem decida homologar a lei”, remata Miguel Champalimaud.
Perto de 95% dos vinhos exportados e importados utilizam rolha de cortiça. Em Portugal, os preços da rolha podem variar entre os 3 cêntimos e os 2 euros. A nível global e em termos de vedantes, a quota de mercado do sector da cortiça situa-se nos 70%.
A Corticeira Amorim vendeu em 2011 3,6 mil milhões de rolhas, de um total de cerca de 12 mil milhões que são vendidas todos os anos no mundo. |