A região do Dão prepara-se para um ano de "bons vinhos" em qualidade e quantidade, mas a chuva que apanhou as vindimas em pleno curso impõe "algumas cautelas".
Os cerca de 45 milhões de quilos de uva que o Dão aguarda, na média dos últimos anos, pode resultar numa ligeira diminuição em litros de vinho, entre os 28 e os 34 milhões, "dois a três por cento menos que em 2011", mas, afiança António Mendes, "sem impacto comercial de relevo".
Quanto à qualidade, este membro da direcção da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVRD), nota que esta "depende dos cuidados que os técnicos tiverem", de forma a «minimizar o efeito das últimas chuvas», o que passa por, "se for necessário, interromper as vindimas e aguardar uns dias para defender a qualidade das uvas".
"Mas nós temos técnicos na região que permitem garantir que esses efeitos negativos das últimas chuvas sejam ultrapassados sem quaisquer efeitos na qualidade do vinho", sinaliza António Mendes.
O mesmo pensa António Teixeira, da Sociedade Vinhos Borges, que tem, na sua Quinta de São Simão, em Nelas, a maior mancha de vinha contínua da região do Dão, apontando este técnico para "perspectivas muito boas" para a produção deste ano, "tanto nos brancos como nos tintos".
Uma das vantagens das vindimas dos Vinhos Borges, no Dão, é o recurso à mecanização, tendo em conta que, como explica António Teixeira, "a máquina, ao mesmo tempo que colhe a uva, separa as humidades que não são próprias do cacho", minimizando assim a possibilidade de a chuva importunar a qualidade do vinho a produzir.
Nos 73 hectares de vinhas que os Vinhos Borges possuem na Quinta de São Simão, a produção deste ano, detalha António Teixeira, "vai rondar as 350 toneladas", o que se traduz numa "muito ligeira quebra na quantidade", mas que, "em matéria de qualidade pode até ter um efeito positivo".
Também João Teixeira, pequeno produtor da área de Silgueiros, admite que "uma ligeira diminuição da quantidade" não implica necessariamente uma má notícia, porque, explica, "isso resulta de algum 'stress' hídrico nos primeiros meses do ano, mas que a vinha conseguiu ultrapassar".
E, tal como os restantes produtores, João Teixeira acrescenta um ponto em que este ano se revelou melhor que 2011: "Fomos capazes, porque estávamos mais atentos, de combater com eficácia algumas doenças que o ano passado causaram estragos", como a podridão negra ou, em inglês, como é também conhecida, a "black roth".
"Por altura da primavera cheguei a temer o pior, com as chuvas a chegarem no tempo adverso às necessidades da vinha, seja por altura do ciclo vegetativo, seja da floração, mas o ano acabou por ser equilibrado", aponta.
E a chuva permitiu mesmo "algumas correcções", como no grau de acidez, por exemplo, refere João Teixeira, acrescentando: "Agora que as vindimas caminham para o fim, a expectativa é quase óptima". |