"Não me interessa ter mais de 10% em Portugal"
Negócios on-line | 20-10-2011

Criada há 13 anos, a companhia de vinhos DFJ está desde o início vocacionada para o exterior, onde faz hoje mais de 80% das vendas.

Há cerca de um ano, ano e meio, José Neiva Correia teve um sobressalto. O seu distribuidor para o mercado da Noruega informava-o que, de lá, lhe garantiam que iam retirar das prateleiras e devolver o seu vinho Paxis, que não se estava a vender. A DFJ Vinhos defendeu-se: "não investimos para sair, mudámos a colheita" e "desenvolvemos o Paxis Arinto" ao gosto norueguês "para vender mais".

A devolução agendada nunca aconteceu, porque a avaliação "muito positiva" de um crítico norueguês do novo produto acabou por reconhecer o investimento feito e resultou num aumento das vendas. Hoje, garante o dono e fundador da empresa de vinhos, o Paxis vende 1.500 garrafas por dia na Noruega.

A história serve ao enólogo para explicar que a vitivinicultura é "um sector com muitas especificidades". "É preciso ter nascido no sector para sentir a actividade, que é bastante difícil".

"Muitos pensaram que iriam nobilitar-se através do vinho e ganhar muito dinheiro", mas "algumas empresas vão ter mesmo que ir falência", acredita.

A Noruega é um dos seis mercados mais importantes para a DFJ, empresa que em 2010 facturou cerca de 10 milhões de euros com seis milhões de garrafas vendidas. Em 2011, o crescimento previsto é de 2,5%, em valor, e de 8,5%, em volume.

Pela prestação deste ano, a capacidade exportadora da DFJ poderá crescer, aumentando o peso na facturação total de 80% para 90%. José Neiva Correia reconhece: o nível das actuais vendas em Portugal "já é bastante bom, mas estamos a fazer um esforço para vender mais". Mas num contexto em que a "DFJ aumente [as vendas ] lá fora" também. "O que gostaria", frisa, "é que se mantivesse" o equilíbrio hoje existente, entre mercado nacional e exportação. "Não me interessa ter mais de 10% [das vendas] no mercado nacional", sublinha.

Com a grande distribuição, à qual aponta tendências "ditatoriais", a negociação é por vezes complicada. Em geral, considera Neiva Correia, o actual panorama de Portugal não recomenda assumir muitos riscos na altura de assinar contratos: "vender é fácil, cobrar é difícil" e não recomendável sem garantias firmes da outra parte.

Hoje com 33 marcas e mais de 100 referências (entre as gamas 'basic', 'standard', 'premium',' super premium'/Grand'Arte e 'icon'), a DFJ prepara-se para mudanças. Vai apostar mais nos vinhos da região de Lisboa e Terras do Sado e manter Algarve e Alentejo. Mas Bairrada, Beiras e Dão "é para acabar", garante o enólogo.
 
 
English