A propósito do Vinho do Porto
O Primeiro de Janeiro | 08-03-2006

Cabe perguntar ao senhor Ministro da Agricultura se o governo já tomou alguma posição quanto ao Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP)?

Impõem-se um esclarecimento acerca das declarações que o senhor Ministro fez – Diário Económico de 17 de Fevereiro – sobre a manutenção ou extinção deste organismo tutelar do Vinho do Porto. Tanto quanto eu sei: continua tudo como dantes, quartel general em Abrantes como quem diz, não houve sequer um sopro neste assunto. 
Não me repugna acreditar que o senhor Ministro não tenha tomado conhecimento do que escrevi, neste diário, no passado dia 22 de Fevereiro. Ou, se tomou, é tudo igual ao litro. Um “ninguém” (sou eu) a fazer perguntas ao Ministro e a pedir esclarecimentos? Onde já se viu um tal atrevimento? Se, eventualmente, o assunto caiu sob os olhares dos seus secretários, que filtram os assuntos que sobem até à pasta ministerial, parece-me estar a ouvir, entre eles (ou elas): conheceis este “gajo” (o gajo continuo a ser eu) que manda aqui umas “bocas” sobre Vinho do Porto? Ninguém conhece. 
Mas é melhor perguntar ao Ministro, alvitra alguém, pode ser que ele saiba de quem se trata. E após a pergunta a resposta do Ministro: nunca ouvi falar nesse tipo ! Onde é que isso vem publicado ? No jornal O Primeiro de Janeiro, respondem.
Também não me repugna acreditar que o senhor Ministro, franzindo o sobrolho, acrescente o mesmo que me perguntaram pessoas credíveis e por 3 ou 4 vezes, quando referi este centenário periódico: ainda se publica O Primeiro de Janeiro? É que aqui há uns poucos anos atrás, continuam, foi noticiado, pela imprensa diária incluindo a tripeira, que o jornal ia encerrar e parece que nunca mais, a mesma imprensa, desmentiu a notícia ! 
Pois é ! As notícias de desastres, de tragédias e as boateiras – sobretudo quando forjadas na inveja – inserem-se com abundância e sem a preocupação de evitar inverdades ou sem respeito pela sensibilidade das pessoas. Infelizmente faz-se gala de mexer desmesuradamente na hecatombe ou no crime, com pormenores, por vezes, sórdidos e mórbidos, como se isso fosse demonstrativo da capacidade do informador. Ainda se distingue pouco o que é informar e especular, o que denota impreparação ou maquiavelismo. 
Na imprensa de muitas páginas diárias alguns assuntos perdem-se no turbilhão das suas folhas e os seus colunistas nem sempre abordam os assuntos comezinhos que, afinal, são importantes. A riqueza dos conteúdos não se mede pelos quilos de papel diariamente postos à disposição do público, mas pelo aproveitamento que os seus textos podem ter para o bem comum.
 
Mas voltando ao assunto nuclear deste artigo eu direi que muito provavelmente, nem o senhor Ministro da Agricultura nem os seus assessores lêem O Primeiro de Janeiro, o que se lamenta. E se o lêem e tentar ignorar, lamenta-se mais ainda. Todos os ministérios lucrariam se tivessem uma assinatura deste diário, que se publica desde 1868, porque isso lhes permitiria distinguir o seu palpitar democrático e isento de paixões clubistas ou partidárias – todas as cores políticas se mostram aqui sem tibieza – e tomariam conhecimento de coisas simples e elementares, que se mostram com a singeleza de um regato tranquilo e não poluído e talvez ajudassem a tomar posições sobre assuntos candentes que envolvem o país e os portugueses.
O IVDP sendo uma entidade pública é sustentada, financeiramente, pelo comércio do Vinho do Porto, como já o referi no passado dia 22 de Fevereiro. O Estado não despende um cêntimo com este organismo, todavia, o IVDP não pode utilizar os seus dinheiros sem autorização do Governo. A sua Direcção, melhor que o Governo, sabe como, onde e quanto deve aplicar para benefício do sector. E creio não errar dizendo que o IVDP é detentor de muitos milhares de euros, que poderia usar na propaganda do Vinho do Porto, interna e externamente, atendendo a que esses valores resultaram das taxas que o comércio exportador pagou – e vai pagando – voluntariamente, em função das suas vendas. É dinheiro que pertence, de direito, ao Vinho do Porto e parece que o mais natural e elementar fosse aplicá-lo na sua expansão, principalmente nos mercados internacionais. Que espera o Governo para ordenar a sua utilização no sentido de criar novos mercados e aumentar os já existentes ? Daqui resultaria, como se sabe, mais dinheiro para o país. 
Saltam-me à mente, por vezes, ideias pecaminosas que me levam a imaginar que a notícia de hipótese de extinção do IVDP tinha como objectivo escuro deitar a mão aos milhares de euros do organismo, que o Governo desviaria para outros fins que nada têm a ver com Vinho do Porto. Acabando a entidade alguém tinha de fazer o sacrifício de “guardar” os dinheiros. Estou convencido que a minha imaginação avançou demasiado e que a intenção do Governo só pode ser salutar e respeitadora dos interesses da riqueza nacional que este vinho representa. 
E cá volto à pergunta sacramental: o que pensa o Governo acerca do IVDP ? 
Nos mercados internacionais, que compram este vinho e que mantêm uma confiança absoluta na intervenção do IVDP neste negócio, a pergunta é a mesma. Duvidam ? Porque não fazem um inquérito, ultra-rápido, através das embaixadas, para saber o que pensam as organizações e os consumidores estrangeiros acerca da posição deste Instituto neste ramo de negócio ? 
Talvez lhes abram os olhos que, pelo visto, andam um pouco fechados. Não lhes parece que isto é mais importante que co-incineração, TGV, OTA e tudo o mais que envolve a nossa economia, atendendo a que os resultados positivos se podem verificar no quase imediato ?
É de novo um “ninguém” que está a clamar por um assunto que não lhe diz respeito, mas sabe o que ele representa para o país ! E o Governo também sabe !
 
 
English