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O enólogo da casa Barão de Vilar |
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Diário de Notícias | 11-06-2011 |
Álvaro van Zeller considera que existem marcas a mais e consumo a menos na produção vinícola nacional. Para além de outros problemas.
Álvaro não é daquele tipo de pessoas que olha para os dois lados antes de atravessar uma rua de sentido único. "Há marcas a mais e consumo a menos", diz, sintetizando numa frase a sua análise ao mercado de vinho. "Está a generalizar-se o hábito de não pagar aos fornecedores. Mesmo a grande distribuição atrasa-se cada vez mais. O mercado está muito difícil", acrescenta.
Quem o ouve fazer este diagnóstico duro e realista só pode ficar surpreendido com o seu optimismo, pois a Barão de Vilar, empresa de que é sócio e enólogo, acaba de fazer um forte investimento no lançamento de uma nova marca (Zom) de DOC Douro para o mercado interno.
Numa mesa ao sol, em dia de ficar com a camisa colada às costas, o Zom precisava de estágios no gelo para poder ser provado à temperatura ideal. Começamos pelo normal (dez mil garrafas que serão vendidas a nove euros), antes de atacarmos o Zom Colecção (cinco mil garrafas, 25 euros cada) a acompanhar o tornedó de avestruz. "Só usamos madeira usada e cuba, para não se sentir no vinho o sabor a madeira", esclarece Álvaro van Zeller, 51 anos, um enólogo com ideias claras: "Um vinho tem de saber a vinho e não a fruta. Gosto de vinhos velhos."
Descendente de uma família que há 14 gerações se dedica ininterruptamente ao negócio de vinhos do Douro, não será exagerado pensar que algum vinho do Porto corre, misturado com os glóbulos brancos e vermelhos, nas veias deste engenheiro agrónomo, licenciado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo.
Quando no 25 de Abril a Primavera marcelista caiu de podre, o pai Álvaro era o presidente do Grémio dos Exportadores do Vinho do Porto e estava a preparar-se para, nessa qualidade, viajar em trabalho para o Brasil. A extinção dos grémios, consequência da Revolução dos Cravos, deixou sem pé o pai Van Zeller, que por pressões vindas do outro lado do Atlântico acabou por voar para o Brasil em representação de uma coisa que já não existia, levando na bagagem a mulher e os cinco filhos.
Acalmados os calores da revolução com o 25 de Novembro, a mãe Van Zeller retornou ao Porto, mas apenas com quatro filhos. Álvaro, o segundo mais velho, estava a gostar de estar no Brasil e ficou sob o pretexto de acabar o secundário. "Desde os 16 que durmo fora de casa", graceja, que após concluir o curso foi para Bordéus fazer especialização em vinhos, área que o apaixonava.
Um Inverno passado a trabalhar na Régua foi suficiente para o atirar de volta ao Brasil, onde se demorou mais três anos a desenvolver um grande projecto de uva de mesa no Rio Grande do Norte, paralelo 4. Aos 28 anos, encontramo-lo no Noval, a histórica quinta da família Van Zeller. "Tinha saído o enólogo, e o meu primo Cristiano perguntou- -me se eu estava interessado no lugar ou se tinha de ir ao mercado contratar um", explica Álvaro.
Por lá ficou, até que, em 1993, a família decide vender o Noval aos franceses da Axa Millesimes. O pai resolveu continuar no negócio do vinho do Porto, acompanhado dos dois filhos mais velhos (Fernando e Álvaro). Ficaram com os armazéns da companhia, em Gaia, que foram a base da Barão do Vilar - marca que foram buscar a um título que estava na posse da família e foi, no entretanto, reactivado. Começaram a comprar vinho, porque para serem comerciantes de Porto careciam de ter um stock-base de 300 pipas, que atingiram em 1998. Depois foram para o mercado externo com os seus Porto (marcas Barão de Vilar e Maynard's), conquistando posições interessantes nos mercados de Holanda, Dinamarca e Inglaterra.
Mais recentemente, a Barão de Vilar voltou-se para os vinhos de mesa DOC Douro, numa estratégia cujo último desenvolvimento foi o lançamento da gama Zom, para conquistar um lugar ao sol num mercado doméstico saturado por "marcas a mais e consumo a menos". |
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