Douro volta a ter um mapa iconográfico 163 anos depois da obra de Forrester
Público | 02-03-2011

Trabalho do inglês David Eley vai ser amanhã apresentado no Porto e em Gaia. Tem três metros de comprimento e conta com 130 ilustrações da região em aguarela.

Temos o GPS, temos o Google Maps, temos as imagens de satélite e, querendo, podemos ter tudo isto à distância de um toque no telemóvel. Mas, em pleno século XXI, o pintor e escritor inglês David Eley inspirou-se no trabalho cartográfico de James Forrester (1809-1861) e andou pelo Douro a pintar as vinhas que o mítico barão de Forrester já não viu crescer. O resultado é uma nova versão de O Douro Portuguez e Paiz Adjacente, publicado em 1848, com os mesmos três metros de comprimento, mas decorado agora com 130 aguarelas originais, mostrando o Douro actual.

"Trata-se de um mapa pouco convencional. Eu não sou cartógrafo, sou um artista. Não pretendi substituir o mapa de Forrester, mas mostrar a região e as quintas onde actualmente é produzido o vinho, criando uma espécie de cartaz para a região, de modo a que, em qualquer parte do mundo, as pessoas possam ter uma ideia de como é o sítio de onde vem o vinho", explicou David Eley ao PÚBLICO.

O Novo Mapa Ilustrado do Douro é amanhã apresentado no Palácio da Bolsa, no Porto, no âmbito do certame A Essência do Vinho, e no hotel The Yeatman, em Gaia, e resulta de mais de dois anos de trabalho de Eley na região. Veio, pela primeira vez, em 2006, a convite da Quinta do Noval, e apaixonou-se. "Para mim, é a mais espantosa região vinícola do mundo e não o digo para ser simpático. Vejo ali algo que faz lembrar o esforço despendido na construção das pirâmides do Egipto e quero que toda a gente perceba como é maravilhoso", diz o artista inglês, que há vários anos escreve sobre os lugares e as pessoas do vinho, em publicações especializadas como a inglesa The World of Fine Wine. "Este é o meu contributo para divulgar o Douro e os seus vinhos, até porque o sucesso de qualquer região vinícola depende muito, hoje, do turismo", acrescentou.

Dois anos de trabalho

A criação de Eley mostra 78 das principais quintas do Douro, escolhidas por uma espécie de comité de especialistas que o artista reuniu, mas também ícones como as velhas estações ferroviárias, os barcos rabelos, o javali, cenas de vindima e homenagens a James Forrester e a D. Antónia Ferreira, a Ferreirinha, que sobreviveu ao acidente que vitimou o barão, no Cachão da Valeira, em 1861.

"O Douro é visualmente impressionante", considera David Eley, pintor especializado na reprodução de vinhedos. Depois da primeira incursão, em 2006, o artista ficou, por isso, a magicar numa forma de regressar com tempo e, embora resida na região do famoso Bordéus, inventou o projecto Novo Douro, ao abrigo do qual criou um microsite dedicado ao assombro duriense, no site A Good Nose (www.agoodnose.com), com textos e belas fotografias dos socalcos. "A ideia passava por ligar as quintas aos vinhos que produzem, criando uma espécie de lealdade pela região", conta.

No decorrer deste trabalho, David Eley constatou que em todas as quintas havia uma reprodução do célebre mapa de Forrester e apercebeu-se da sua importância histórica. "Mas o mapa está desactualizado. Não é irrelevante, claro, mas não ajuda as pessoas que, hoje, queiram saber onde estão as quintas actuais, 160 anos depois da época em que Forrester trabalhou", explica. Comparando os dois mapas, as diferenças são evidentes e constata-se que a própria vinha mudou de configuração geométrica. "Muitas quintas, outrora importantes, desapareceram, mal deixando algum testemunho, enquanto outras adquiriram um valor lendário", assinala Eley no texto de apresentação do projecto.

Empenhando neste projecto, o pintor inglês decidiu ficar longe da família por quase dois anos, instalando-se numa quinta duriense e indo todos os dias trabalhar no estúdio que o Museu do Douro disponibilizou. "Estive 11 meses a pintar, mas, na verdade, fiz dois mapas. Fiz, primeiro, uma espécie de cartoon, para explicar o projecto aos possíveis patrocinadores [68 empresas apoiaram o projecto], e só depois comecei a pintar", contou. O traçado do rio, tal como o barão de Forrester o desenhou, foi ainda corrigido com recurso às tecnologias cartográficas actuais.

A pintura original foi, depois, enviada para Viena, na Áustria, onde foi digitalizada no equipamento mais moderno que existe, sendo ali produzidas todos os exemplares, em papel de alta qualidade. Para além disso, David Eley criou, com a Moldarpovoa, da Póvoa de Varzim, uma moldura de carvalho maciço para as reproduções no tamanho original, a qual tem por inspiração a moldura original usada por James Forrester.
 
 
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