Quinta do Gradil já consegue exportar mais de metade da sua produção vinícola
Público | 17-10-2010

A maior quinta do concelho do Cadaval factura um milhão de euros e vende para o estrangeiro mais de metade dos vinhos que produz em cerca de 120 hectares.

"Eu só comprava e vendia vinhos e tive necessidade de me chegar mais perto da produção. Foi assim que em 1999 decidi comprar a Quinta dos Gradil". Luís Vieira, 38 anos, é o proprietário da quinta com maior área contígua da região oeste. São 200 hectares de terrenos todos seguidos, dos quais 120 plantados com vinhas que rendem uma produção de 1,2 milhões de toneladas de uva.

Com um palácio, uma capela, um núcleo habitacional e uma adega, a quinta - situada no Vilar, junto ao sopé da serra do Montejunto - é quase um ex libris no concelho do Cadaval.

O Marquês de Pombal comprou-a em 1760 e os seus descendentes mantiveram-na até meados do século XX, quando esta passou para as mãos da família Isidoro (das célebres Salsichas Isidoro).

Luís Vieira, natural de Fátima e filho e neto de empresário vitivinícolas, compra-a em 1999 e nela opera uma espécie de "milagre das uvas".

"A quinta tinha uma grande capacidade de produção e de armazenagem que não estavam aproveitadas. Tinha 80 hectares de vinha branca e produzia 300 a 400 toneladas de uva. Hoje cultivamos 120 hectares de branco e tinto e a produção é de 1,2 milhões de toneladas".

Luís Vieira não diz quanto pagou pela propriedade, mas conta que nela investiu 2,5 milhões de euros nos últimos dez anos e que espera ter esse investimento recuperado num prazo de cinco anos.

A prioridade foi para a replantação de vinhas com novas castas e para a mecanização da produção. O interior dos velhos depósitos de cimento foram revestidos com um material inox, compraram-se prensas e depósitos de fermentação. A própria vindima, que chegou a ter um rancho de 120 pessoas, é agora feita por uma máquina (alugada) que trabalha pela noite fora quando é necessário.

Um enólogo conceituado - António Ventura - e uma aposta nas castas Touriga Nacional, Syrah, Alicante, Merlot, para os tintos, e Arinto e Sauvignon, para os brancos, fizeram o resto.

Hoje a Quinta do Gradil facturaum milhão de euros em vinhos, dos quais 600 mil por via da exportação. A China é responsável por 50 por cento do volume de vendas além fronteiras, seguida da Alemanha, França e Suíça (30 por cento), repartindo-se os restantes 20 por cento pelos Estados Unidos, Canadá e PALOP.

Luís Vieira tem a preocupação de explicar que não se trata de vinho a granel o que viaja para a China, mas sim de vinho engarrafado, de qualidade. "É um mercado que gosta de marcas e que facilmente fica fiel de um determinado tipo de vinho", diz. Já a França e a Suíça representam o "mercado da saudade", graças à comunidade de emigrantes portugueses.

Em Portugal as marcas Gradil vendem-se nas garrafeiras e no El Corte Inglês, mas Luís Vieira não tem dúvidas que o futuro passa pelo aumento das exportações, quanto mais não seja porque não há alternativa face ao período de recessão nacional. "O esforço é lá para fora. É a única solução", afirma.

O Brasil, Angola e o Canadá são os mercado-alvo e todos num segmento alto. Precisamente o contrário do que acontece, por exemplo, na Guiné, São Tomé e Cabo Verde, onde o vinho menos exigente continua a ter uma procura interessante.

Ter uma quinta no Oeste e fazer vinho é um bom negócio? Resposta: "É um negócio em que, com dedicação e atenção, consegue-se bons resultados." Mas com uma condição: "Desde que haja alguma capitalização, porque as quintas só por si não se conseguem pagar a si próprias".

Isto quer dizer que a Quinta do Gradil Sociedade Vitivinícola beneficia de todas as vantagens de pertencer ao grupo Parras, detido em grande parte por Luís Vieira e que factura 20 milhões de euros por ano. Trata-se de uma holding ancorada no sector agro-industrial, sobretudo vitivinícola, que possui, entre outras, uma empresa de engarrafamento e uma transportadora. O empresário, economista de formação, confessa que sente um especial entusiasmo pelo projecto da Quinta do Gradil. "Para fazer vinho é preciso amor, carinho e muito cuidado. Mas pode compensar. É um negócio com margens muito pequenas, mas que resulta com grandes quantidades".
 
 
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