Os produtores de vinho do Ribatejo dizem que o sector não está devidamente unido e liderado. No balanço do Festival do Vinho do Ribatejo criticou-se ainda a promoção ineficaz dos vinhos ribatejanos que nem sequer conseguem vender junto dos restaurantes da região.
A Comissão Vitivinícola Regional (CVR) do Ribatejo foi fortemente criticada por alguns produtores durante a conferência de imprensa onde foi feito o balanço do Festival do Vinho do Ribatejo, que decorreu em simultâneo com a Feira Nacional de Agricultura, de 10 a 18 de Junho, em Santarém.
As críticas maiores vieram do responsável da Casa Agrícola da Quinta do Falcão, Joaquim Monteiro, que comparou o funcionamento da CVR a uma reunião de condomínio e questionou o trabalho feito por aquele organismo. Que, em sua opinião, não defende correctamente o interesse de quem produz e comercializa o vinho. “Há imenso trabalho a fazer mas este sector não está devidamente unido e liderado”, afirmou.
A divisão entre os produtores foi outro dos problemas apontados, com Joaquim Monteiro a defender que é altura dos políticos se retirarem deste processo que pretende valorizar os vinhos do Ribatejo. “A pirâmide está invertida. Nós é que sabemos o que é o mercado e não podemos receber lições de nenhum político”, afirmou o produtor do concelho do Cartaxo.
Joaquim Monteiro fez questão de esclarecer que a sua afirmação, ao contrário do que possa parecer, não era uma crítica aos políticos mas à falta de entendimento e visão dos produtores, que não se conseguem entender devidamente. Ao ponto de ser necessária a intervenção de organismos exteriores, casos do governo civil e das autarquias. “A culpa disto é das casas agrícolas e não dos políticos”, precisou.
A opinião foi partilhada por outros produtores presentes. Vítor Barros, da Companhia das Lezírias, reforçou a necessidade de diálogo entre os produtores como a melhor forma de fomentar o negócio e promover o vinho do Ribatejo.
Para este produtor, a má fama dos vinhos da região é o maior problema e aquele que necessita urgentemente de ser ultrapassado. Como exemplo referiu que a Companhia das Lezírias fez uma acção de promoção junto de uma importante cadeia de hotéis, cujos responsáveis torceram o nariz por serem vinhos ribatejanos. No entanto, numa prova cega, sem os vinhos estarem identificados, o vinho eleito como o melhor era justamente do Ribatejo.
A possível fusão da CVR do Ribatejo com as suas congéneres da Estremadura ou Península de Setúbal, já admitida por vários responsáveis, também foi recusada por alguns dos produtores presentes, que defendem que os vinhos ribatejanos têm capacidade para se afirmar no mercado global.
Contactado por O MIRANTE, o presidente da CVR do Ribatejo, Castro Rego, não quis comentar as opiniões dos produtores que estiveram na reunião, considerando que é normal querer-se sempre mais do que se tem.
Já sobre a possível fusão da CVR Ribatejo com a Estremadura ou Setúbal esclareceu que a comissão executiva só está a desenvolver contactos com as suas congéneres vizinhas porque o Conselho Geral, onde estão representados os maiores produtores, assim decidiu. Em qualquer das hipóteses, garantiu, a denominação de origem Ribatejo nunca será posta em causa. |