Nasceu pelas mãos dos romanos, foi a bebida preferida do Marquês de Pombal e circulou com fartura na corte inglesa. Mas o vinho de Bucelas, em Loures, já esteve à beira de desaparecer. Hoje, a produção estabilizou e procura atingir novos mercados.
Apesar de ter começado a sua própria produção apenas em 1991, António Paneiro Pinto, 59 anos, praticamente nasceu na vinha. Bisneto de António Joaquim Pinto Júnior e João Camilo Alves - ambos produtores de vinhos de Bucelas no século XIX – o dono do Chão do Prado reclama para a sua casa o título de “última empresa familiar” da Região Demarcada de Bucelas.
Dos tempos dos avós, António Paneiro Pinto recorda o transporte das uvas para o lagar nos carros de bois e as operações na vinha em que se recorria a quase 20 homens para fazer o trabalho que hoje é assegurado por um único funcionário com uma máquina.
Os avanços da técnica, como a substituição da maioria da madeira por inox, a aplicação de frio e as preocupações ambientais, nos últimos anos, são outras das grandes diferenças apontadas pelo produtor.
A adega de António Paneiro Pinto – uma das que, juntamente com a Quinta da Murta e as Caves Velhas, abriram as portas ao público anteontem, no âmbito das celebrações do Dia Nacional do Vinho – produz 30 mil garrafas por ano, entre vinho branco e espumante. O Chão do Prado emprega sete pessoas e inclui um restaurante e um quiosque no centro de Lisboa.
Apesar de reconhecido nacional e internacionalmente pela sua qualidade, o Bucelas tem tido dificuldade em impor-se nos mercados externos, devido à pressão dos preços de vinhos de outros países onde a produção é muito maior, a mão-de-obra mais barata e as preocupações ambientais menores.
Sendo a única região do país demarcada apenas para vinhos brancos, Bucelas tem uma área de vinha de 132 hectares, embora esteja a crescer, com investimentos de alguns produtores que começam a procurar penetrar em mercados como o brasileiro e o angolano. “Até há uns anos, em Portugal, entendia-se que vinho a sério era tinto. Agora, o branco está na moda. E o Bucelas mais”, remata António Paneiro Pinto. |