Reforçar o consumo interno e conquistar novos mercados são os desafios que se colocam à União das Adegas Cooperativas do Dão, fundada há quarenta anos.
Quarenta anos após a sua fundação, o principal desafio que se continua a colocar à União das Adegas Cooperativas do Dão (UDACA), com sede em Viseu, é garantir uma "voz uníssona" na comercialização dos vinhos. O presidente da UDACA, Afonso Loureiro, considera que só assim os vinhos do Dão conseguirão penetrar em mercados como a Rússia ou a China.
A internacionalização já representa 13 por cento das vendas, sendo os principais destinos Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Alemanha, Suíça e Angola. Actualmente, a UDACA está também "a tentar entrar nos mercados do Norte da Europa".
A UDACA representa dez adegas (Penalva do Castelo, Mangualde, Nelas, Tondela, Santa Comba Dão, Silgueiros, São Paio, Vila Nova de Tasém, Ervedal da Beira e Nogueira do Cravo), com cerca de dez mil associados, responsáveis pela produção de sensivelmente 60 por cento do total dos vinhos DOC (Denominação de Origem Controlada) Dão. Afonso Loureiro considera que há, no entanto, ainda um trabalho a ser feito para que "a comercialização seja feita uma só voz".
"As adegas têm de funcionar como centros de produção e a UDACA comercializa o vinho, para podermos ter dimensão suficiente para avançarmos para grandes mercados, como a Rússia ou a China", realçou ao PÚBLICO, acrescentando que a estrutura "ainda não tem a importância que devia". "As pessoas têm de abandonar a sua capelinha e as guerras particulares. Não podemos pensar que a nossa adega é melhor do que a do vizinho. Temos de actuar em conjunto", reiterou.
Ensinar os jovens a beber vinho é prioridade
Nesse sentido, considera que os homens que fundaram a UDACA, a 21 de Maio de 1966, foram "pioneiros" e demonstraram "grande visão", já que, na altura, o vinho produzido "estava desde logo vendido". Actualmente o mesmo não se passa, já que "cada vez se bebe menos vinho".
Para Afonso Loureiro, a culpa é da própria legislação, que não permite publicidade do sector em horário nobre, mas, por outro lado, autoriza a passagem de anúncios a outras bebidas alcoólicas, nomeadamente a cerveja. Também responsabiliza a alteração ao Código da Estrada, que fixou a taxa de alcoolemia em 0,2 gramas de álcool por litro de sangue - apesar de Loureiro concordar que o vinho deve ser bebido com moderação -, e o aumento de cinco por cento na taxa do IVA pela grave crise que atravessa o sector. Por outro lado, lamenta que, nas campanhas contra o álcool, se fale "essencialmente do vinho, em vez de shots ou de uísque". "Nos últimos cinco ou seis anos, o consumo de vinho per capita no país caiu em 50 por cento", enfatizou, acrescentando que, para inverter a tendência, a UDACA tem feito uma aposta na profissionalização e na modernização.
Outro desafio que se coloca ao sector é "ensinar os jovens a beber vinho". Na opinião de Afonso Loureiro, a medida deve passar não apenas por campanhas de marketing, mas pela própria escola, onde "se deve ensinar que o vinho faz parte da cadeia alimentar", nomeadamente da alimentação mediterrânica.
A FRASE
"As pessoas têm de abandonar a sua capelinha e as guerras particulares. Não podemos pensar que a nossa adega é melhor do que a do vizinho. Temos de actuar em conjunto"
Afonso Loureiro
Presidente da UDACA |