Governo em guerra com sector vinícola
Correio da Manhã | 03-04-2006

Ascenso Simões exige que o sector vitivinícola lance uma campanha de moderação ao consumo Apesar de o consumo de vinho em Portugal ser, actualmente, largamente inferior ao de cerveja, o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, acusa a indústria vitivinícola de nada fazer para diminuir o número de acidentes na estrada.

Segundo dados do presidente da ViniPortugal, Vasco d’Avillez, o consumo médio de vinho por português situa-se nos 44 litros por ano. Valores que contrastam com o consumo médio de cerveja. Um estudo da Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja regista um consumo anual de 61,7 litros por pessoa em 2004.
 
O sector vinícola não compreende os avisos que o secretário de Estado da Administração Interna fez ontem, conforme noticiado pelo jornal ‘Diário de Notícias’, à indústria do vinho, exigindo-lhe o desenvolvimento de campanhas e outras medidas que visem a diminuição do consumo por forma a minorar a sinistralidade rodoviária.
 
Segundo contas do presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), João Machado, uma pessoa teria de beber, em média, “meio litro de vinho” para atingir a actual taxa de álcool permitida por lei, 0,49 gramas por litro de sangue. “Agora imagine-se quanto tinha de beber para atingir 1,2 gramas por litro”, salienta o responsável, referindo-se às estatísticas que indicam esta taxa como a encontrada na maioria dos acidentes onde foi detectada presença de álcool.
 
Para o presidente da ViniPortugal, os “ataques” do secretário de Estado ao sector do vinho é apenas uma forma de o Governo desviar as atenções da “guerra entre a CAP e o Ministério da Agricultura”.
 
Vasco d’Avillez lembra que o consumo de vinho tem vindo a diminuir ao longo dos tempos, fruto também das mudanças de estilo de vida e da própria consciencialização dos consumidores. E acusa o Governo de atribuir a culpa a quem não a tem e de se demitir da sua função de controlo: “O Estado é que tem de fiscalizar, ensinar e saber a quem é que dá a carta de condução”.
 
NOTAS:
 
TAXA
 
O secretário de Estado da Administração Interna ameaça baixar a taxa de álcool permitida durante a condução caso a indústria do vinho não tome medidas para contrariar os acidentes.
 
ESTUDOS
 
Costa e Oliveira, da Fenadegas, lembra que o tema já foi abordado e tirou a razão “ao Governo da altura”, devido a estudos que não colocam o álcool nas primeiras causas de acidentes.
 
GUERRA
 
Um copo de aguardente ou de uísque tem muito mais álcool do que um copo de vinho, refere Vasco d’Avillez, para explicar as consequências da ingestão de ambos os tipos de bebida.
 
 
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