O país do Porto
Pedro Bidarra | Vice-presidente da BBDO | 23-02-2010

O vinho da Bulgária é óptimo, dizem os búlgaros.

Imagina-se a jantar em Londres, com uma companhia deslumbrante, e a pedir um vinho da Bulgária?

O vinho português é óptimo, dizemos nós. É capaz de ser, mas isso não chega para ser uma referência no exterior. O mundo tem muito vinho e cada vez melhor. Nós cá também, mas não o vendemos muito por lá.

Há muitas razões e "economics" para que isso aconteça. Uma delas é que Portugal não é no mundo um país de vinhos, pelo menos com o nível de França, Itália, Espanha ou dos países do Novo Mundo. Falta- -nos top of mind, legitimidade, cachê. Falta-nos uma história para contar.

Acontece que nós temos uma história, um atalho para a cabeça do consumidor "global" que trará a legitimidade para sermos considerados país de bons vinhos. Uma história que ninguém conta e que podia alavancar a notoriedade dos nosso vinhos de mesa.

A história chama-se "vinho do Porto" e conta-se facilmente: o vinho do Porto é conhecido em todo o mundo, apreciado, tem história, é complexo, guloso, feito com castas únicas, que só por cá se dão. Ora o consumidor global acreditará que os que têm o saber para fazer Porto saberão com certeza fazer vinhos de mesa excepcionais, e não terá por isso dúvidas em pedir, em qualquer restaurante do mundo, um vinho do país do Porto, um vinho que só pode ser bom.

Bem podemos ir a feiras, pôr selos a dizer Vinhos Premium ou falar das nossas castas únicas. A Bulgária pode fazer o mesmo.

Vinhos do país do Porto só nós. É este o atalho para a cabeça do consumidor. Já o atalho para as cabeças dos responsáveis do sector nunca o consegui encontrar. Está cheio de mato.
 
 
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