Cerveja, vinho e aparelhos eléctricos para telefonias são os três produtos que ocupam o topo da listas das exportações de Portugal para Angola. Produtos que correspondem às preferências de consumo de uma camada da população angolana de dimensão já considerável e que os empresários portugueses devem aproveitar.
O sector empresarial português está em condições de aproveitar a capacidade financeira desta camada social? A resposta é “talvez sim” segundo Fernando Jorge Cardoso, um investigador do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, no âmbito do seu estudo “Diplomacia, Cooperação e Negócios: o papel dos Actores externos em Angola e Moçambique”. O responsável, em declarações ao Diário Económico, sublinha que o resultado do seu estudo mostra que os angolanos estão muito expectantes quanto ao papel que Portugal possa vir a desempenhar no futuro do país. “Sector petrolífero à parte, existem boas oportunidades para o fornecimento de material às pequenas e médias empresas”, explica, acrescentando porém que a África do Sul, por razões de proximidade geográfica e de custo, está a ganhar terreno precisamente neste sector.
Angola foi o nono cliente de Portugal em 2005 e 2004, com quotas no total das exportações nacionais de 2,90% e 2,27%, respectivamente e foi o 63º fornecedor de Portugal em 2005, com uma quota de 0,05% no total das nossas importações (127º fornecedor em 2004, com 0%), segundo dados do INE.
Para além da evolução positiva que as exportações nacionais para Angola tiveram nos últimos cinco anos - sendo a balança altamente favorável para Portugal - as relações entre os dois países estão agora a caminhar para uma nova fase: de incentivo aos investimentos. A visita do primeiro-ministro José Sócrates é um marco desta viragem. A percentagem dos investimentos de Portugal em Angola oscilam regularmente acima dos 80%, centrados, sobretudo no sector financeiro. Mas, num momento em que todo o mundo está com os olhos postos neste país produtor de petróleo - China, Brasil, Japão, Rússia, Polónia criaram linhas de crédito e novos projectos de investimento em Angola -, o Governo português decidiu avançar com uma ofensiva diplomática e empresarial.
Com as empresas a investir directamente “não há perigo de substituição das exportações”, garantiu fonte governamental ao DE. “Pelo contrário, a massa crítica é importante. Porque, quanto maior o número de empresas portuguesas em Angola, mais elas vão importar dos seus fornecedores habituais que continuam em Portugal. É aliás, o que se passa, actualmente, com as construtoras que importam de Portugal grande parte dos materiais de construção utilizados localmente. Dado o estado de maturação do mercado, em que falta tudo, as cadeias de abastecimento locais são débeis”, acrescenta a mesma fonte.
Fernando Jorge Cardoso reitera este raciocínio e acredita que não estamos perante o risco das empresas nacionais deslocalizarem totalmente a sua produção para Angola, salvo algumas excepções de PME. O investigador defende que o futuro reserva relações mais fortes e interdependentes entre os dois países. |