Noticiou o Governo e foi devidamente publicada a extinção de mais de um cento de organismos com ligação ao Estado. À primeira vista parece tratar-se de uma medida salutar de “limpeza” – talvez, até, de cariz algo parasitária – que se revelou necessária em face dos resultados e dos objectivos dessas instituições.
Naturalmente que isto significa a extinção de muitos postos de trabalho e por isso surge a pergunta: qual o destino desse pessoal ? E a resposta obtida: integração noutras empresas ou serviços de que o Estado dispõe ou, por acordo mútuo, reforma antecipada.
Não sei, não me informei e não tenciono fazê-lo, do valimento desta acção que varreu do meio económico nacional os cento e tal organismos. Apenas aceito a versão governamental apresentada e por conhecimento mais estreito do que se passava em um destes – uma andorinha não faz a primavera, é certo – esta decisão peca por tardia.
Esta relação dos finados trouxe-me uma certeza: o Instituto do Vinho do Douro e do Porto não faz parte, felizmente, das entidades que acabam ou são integradas.
A imprensa internacional constatará a mesma coisa e se receava que esta leva de condenados pudesse incluir o IVDP pode ficar tranquila. Pelo menos para já. A notícia publicada em Fevereiro, e a que fiz referência nos três artigos anteriores, terá sido apenas uma errada interpretação jornalística ou uma distracção do Ministro da Agricultura?
Parece que isso pouco importa, agora que o IVDP permanece intocável, para honra e prestígio do Vinho do Porto. Já agora senhor Ministro, seja permitido que os dinheiros avultados de que dispõe este organismo sejam libertos para que a sua Direcção possa aplicá-los na publicidade e divulgação deste vinho nos mercados internacionais, nomeadamente aqueles de fraco consumo, atendendo a que os valores conseguidos de Bruxelas, e que já foram divulgados, são uma pequena e insuficiente contribuição para levar a cabo tão grande tarefa num país imenso como os Estados Unidos da América. Seria a cereja no topo do bolo e uma inteligente decisão que permitiria uma eficiente campanha externa.
Sobre Vinho do Porto, assunto encerrado e todos os receios que apontei são, hoje, considerados irrelevantes porque o panorama é verde, como a esperança.
Subsiste, apenas – e não será pouco – a não cedência de mais prerrogativas que são exclusivas do Vinho do Porto. A permissão de estrangeiros utilizarem os termos “Vintage”, “tawny e ruby” já é bastante deletéria. Haja vontade, força e determinação para não ceder mais nada. A propósito do Ministério da Agricultura, a última semana foi pródiga em mais protestos do sector agrícola, englobando a CAP e outras entidades paralelas. Ignoro os trunfos de cada mão, Confederação e Associações congéneres de um lado e Governo do outro. O que se tem lido e ouvido é deveras complexo. Ou será simples e os intervenientes é que complicam o assunto?
Parece faltar um esclarecimento cabal, por parte do Governo, que dê tranquilidade aos milhares de agricultores que se sentem defraudados nos seus interesses.
As relações estão ao rubro e começa a descambar em virulência. Cabe ao senhor Ministro tomar a palavra – a falar é que a gente se entende – construtivamente de modo a que as dúvidas sejam ultrapassadas e as reclamações, se justas, sejam atendidas.
Não é muito elegante, nem o Ministro deve favorecer – por falta de comunicação ou de injustiça – o descalabro de situações que não abonam a credibilidade de uns e outros.
Um Ministro não é um ditador, é um servidor do Estado que deve ter a preocupação do bem público e tem obrigação de dar explicações e satisfazer os interesses legítimos daqueles que contribuem com os seus dinheiros para que o mesmo Estado possa pagar os seus vencimentos.
Não é simpático ler na imprensa que em Portalegre, por exemplo, sobre um camião de caixa aberta se encontrava um burro, tendo à ilharga um cartaz com os dizeres: “Colega Jaime, és a vergonha da nossa classe – os burros”. Jaime, é o primeiro nome do Ministro da Agricultura, como se sabe. E outro ainda “como um burlão, torna o Estado um ladrão”,
Um Ministro, seja em que governo for, não deve dar motivo para o insulto pessoal. Só a sua falta de esclarecimento ou atendimento podem originar tais “desabafos” que, obviamente, se repercutem na imprensa estrangeira, dando azo a uma chacota sobre o nosso país que, me parece, poder evitar-se. Só é preciso bom senso e noção do dever que o cargo impõe.
Todos sabemos que o Estado, que em tempos era considerado pessoa de bem, por vezes deixa de o ser em face do pouco cuidado que alguns governantes têm em evitar que assim se pense.
Somos demasiado pequenos para cometer certas faltas ou leviandades. Uma salutar e atempada conversa ou explicação, conseguem, quase sempre, evitar situações desagradáveis e contundentes.
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