Enquanto o Palácio de Belém tem feito comendador gente que não toma banho todos os dias, nem paga o que deve, existe uma veneranda instituição na região do Grande Porto que se apraz em não vulgarizar as distinções que confere.
Já aqui defendi que a banalização das comendas tem duas consequências trágicas por um lado torna-as menos apetecíveis e por outro, bem pior, crava punhaladas de injustiça nas costas dos que foram feitos comendadores antes da rebaldaria generalizada na administração das medalhas.
As confrarias, quando nascem, têm também essa tentação irresistível de procurar ganhar dimensão, atirando para trás das costas a ideia de que a quantidade é geralmente o maior inimigo da qualidade. São novas, não pensam.
As velhas confrarias, bem pelo contrário, aprenderam a ponderar o valor da distinção que conferem e a quantidade já não varia em função da necessidade de angariar novos confrades, mas sim em função do número de pessoas com mérito suficiente para serem chamadas à investidura.
Falando nomeadamente das confrarias báquicas, se normalmente a quantidade não rima com qualidade (apesar das aparências…) a verdade é que há anos de boas colheitas, onde o número de novos confrades é justamente elevado por razões de mérito que fogem a qualquer controle.
Por todas as razões atrás aduzidas, a Confraria do Vinho do Porto tem um lugar especial no seio das confrarias portuguesas. Defensora do vinho generoso, esta confraria tem sido exemplar na forma como escolhe os seus confrades, não cedendo ao facilitismo de alguns nem às conveniências politicas de outras agremiações congéneres. A generosidade tem limites.
Como manda a tradição, voltaremos a ter neste fim de semana de São João, as três principais actividades anuais da Confraria do Vinho do Porto. Desta vez será no próprio dia do Santo Popular mais querido do Porto, que o Palácio da Bolsa receberá mais uma cerimónia de entronização de novos confrades, seguindo-se o cortejo até ao Edifício da Alfândega, onde decorrerão o Jantar e o Baile de Gala.
Ainda antes de um dos espectáculos mais típicos de Portugal, a regata dos Barcos Rabelos (Domingo, 25 a partir das 12h) serão entronizados confrades o Embaixador de Portugal na Alemanha, João de Vallera e o director da Delegação do Icep no mesmo país, Rui Boavista Marques.
Era aqui que eu queria chegar. Tenho tido o privilégio de trabalhar com estes dois senhores na promoção da moda e do vestuário português no quadro da mais inovadora feira da actualidade, que tem o sugestivo nome "Bread and Butter" (Pão com Manteiga). Ao longo dos últimos anos tenho sido testemunha do carinho, elegância e empenho com que estes dois senhores da diplomacia económica portuguesa, a propósito de tudo e de nada, não descuram um segundo a promoção do vinho português e em especial o Vinho do Porto.
Em Berlim, na sede desta organização de moda, procurada por "opinion leaders" de todo o mundo, ninguém saberá falar português, mas todos sabem pronunciar o nome de várias marcas dos nossos vinhos. Não imaginam o que estas acções, aparentemente simples, significam na notoriedade internacional dos nossos néctares.
Mais uma vez, a Confraria do Vinho do Porto não ergue as suas taças por dá cá aquela palha. |