Manter a tradição saloia, a dois passos da capital,obriga habitantes a remexer baús para preparar a festa.
Agricultores e camponesas, um tanoeiro, a oficina do ferreiro e muitas uvas fizeram parte do desfile etnográfico a que assistiram milhares de pessoas, inserido na Festa do Vinho e das Vindimas de Bucelas, em Loures.
A poucos quilómetros de Lisboa, os habitantes procuram manter viva a tradição saloia da cultura da vinha, tal como ela existia no princípio do século passado. Por isso, em Bucelas, são os próprios habitantes que fazem questão de se vestir a rigor e simular as várias actividades associadas à produção do famoso vinho local.
Dezenas de figurantes, vestidos com roupas recuperadas, em muitos casos, dos baús dos avós, percorreram as ruas da vila, cantando músicas antigas associadas à cultura vitivinícola. Acompanhavam-nos 27 carros alegóricos, alusivos às várias fases do cultivo da vinha, fabrico do vinho e processos associados, preparados pelas colectividades da vila e aldeias vizinhas.
Pelas ruas enfeitadas com parras, seguiam os vários carros, cada um com o seu tema, da enxertia à taberna, passando pela poda, pela sulfatação e pela vindima. Ao cortejo também não faltavam outras figuras indispensáveis ao trabalho dos camponeses, como o cesteiro, o tanoeiro e o ferreiro.
A assistir ao desfile estavam milhares de pessoas de Bucelas mas também vindas de outros pontos do concelho de Loures e mesmo de outros municípios. Era o caso de Carlos Alves, 46 anos, e da família, que vinham de Sobral de Monte Agraço.
"Vimos de uma zona onde também há bastante tradição da lida do campo e gostamos destas festas", explica o comerciante. "Acho que é muito importante manterem-se estes costumes. Houve uma altura em que os mais novos tinham vergonha destas tradições, mas acho que isso agora já passou", diz Carlos Alves, indicando o grande número de crianças e jovens que participaram no desfile.
Para António Coimbra, 56 anos, participar na Festa do Vinho e das Vindimas só faz sentido se for de copo na mão. "Até era crime, estar a celebrar o vinho e não beber!", diz o visitante, aparentemente animado pela bebida.
No recinto da festa, que para além das colectividades locais, foi organizada pela Câmara de Loures e pela Junta de Freguesia de Bucelas, também estiveram patentes, desde sexta-feira, mostras de vinhos, com espaço para provas e degustação, de artesanato tradicional, de montras e de gastronomia saloia. Os visitantes puderam também percorrer uma "Rota dos Vinhos", com visitas aos produtores, e conhecer o património de Bucelas.
Ontem, depois do desfile etnográfico, a animação ficou a cargo de grupos de concertinas e de música tradicional portuguesa. Um concerto de Quim Barreiros encerrou a festa. |