Há cerca de uma semana, a princesa Victoria da Suécia bebeu um Periquita Reserva 2005 num jantar de gala que distinguiu dezenas de mulheres empreendedoras de toda a Europa.
No luxo da Câmara Municipal de Estocolmo (o mesmo edifício que recebe o famoso banquete do Prémio Nobel), o vinho da José Maria da Fonseca acompanhou o prato principal e foi saboreado por mais de 400 pessoas.
O episódio poderia passar despercebido, não fosse o aumento expressivo das exportações de vinho para a Suécia. Nos primeiros seis meses do ano, já ultrapassaram a totalidade de 2008, tanto em valor como em volume. Mas o bom comportamento do sector fora de portas não se registou apenas no país da princesa Victoria. Aliás, a manter-se o ritmo de exportações verificado no primeiro semestre deste ano, 2009 poderá ser o melhor dos últimos nove anos em termos de valor.
No primeiro semestre o mercado conseguiu vendas de 183.543 milhões de euros, 70 por cento da totalidade alcançada em 2008, que foi o melhor ano desde 2000. Comparando os dados semestrais homólogos, as vendas aumentaram 45 por cento. Já em volume (hectolitros) a subida foi de sete por cento, para 1.212.399. Contas feitas, o preço por litro exportado aumentou 36 por cento.
“Tudo indica que poderemos ter o melhor ano de exportações em valor. Estamos a conseguir vender a um preço melhor”, diz Afonso Correia, presidente do Instituto do Vinho e da Vinha (IVV). A evolução das exportações de vinho (excluindo licores, Porto e Madeira) também comprova aquilo que Francisco Borba, presidente da ViniPortugal, vem sentindo no terreno. O responsável pela associação que promove os vinhos portugueses em mercados-alvo diz que o produto nacional está a conseguir equilibrar o preço e a qualidade, características que, em tempo de recessão, conseguem captar a atenção dos consumidores estrangeiros, nomeadamente nos Estados Unidos. “Chegou a hora dos vinhos portugueses”, garante.
Angola lidera
Angola mantém-se como o principal destino das exportações, com 334.911 hectolitros vendidos, que valeram até Junho mais de 36 milhões de euros, um aumento de 84 por cento face ao primeiro semestre de 2008. É um mercado estratégico para produtores como o Esporão, que detém o Monte Velho e vende para Angola 30 por cento mais do que para os EUA e o Brasil.
“É o que mais tem crescido, representando um grande potencial a curto e médio prazo. O consumidor aprecia produtos semelhantes ao cliente português”, diz João Roquette, presidente executivo do Esporão. O peso das exportações no negócio tem vindo a crescer: em 2006 era de 24 por cento; este ano chegará aos 35 por cento. De acordo com o plano estratégico da empresa, a intenção é atingir os 40 por cento em 2011.
O aumento das vendas em Angola também foi expressivo para a Aveleda: 40 por cento. Mas não é um caso isolado. “Crescemos 40 por cento para a Alemanha, por um lado graças ao alargamento da distribuição, por outro, devido ao crescente interesse pelos vinhos portugueses”, afirma Martim Guedes, director de marketing da Aveleda, que produz 14 milhões de garrafas por ano. Os dados semestrais do INE reflectem esta tendência: é o terceiro principal mercado (em valor), depois dos Estados Unidos.
Comparando os números dos primeiros seis meses do ano com os dados anuais de 2008, percebe-se que destinos como os EUA, a Suécia, a Bélgica e os Países Baixos já conseguiram captar grande parte das vendas feitas durante todo o ano passado. Contudo, o melhor preço por litro foi conseguido no Canadá (2,66 euros). O Brasil, nono principal mercado para Portugal, registou vendas de 8,6 milhões de euros. O Reino Unido, 13 milhões.
Apesar da crise, o sector está em “crescimento moderado”, diz Francisco Ferreira, CEO da Sogrape Vinhos, que detém o Mateus Rosé. O Reino Unido continua a ser um mercado “muito atractivo” para a maior empresa do sector, com um volume de negócios de 182 milhões de euros, menos 1,9 por cento face a 2007. A Sogrape exporta entre 70 e 75 por cento da sua produção e, sem arriscar previsões, Francisco Ferreira encara 2009 com “natural prudência”.
Este ano, as exportações compensaram a queda do consumo interno. João Roquette espera manter os níveis do volume de negócios (39 milhões de euros ano passado). “Nos primeiros quatro meses registou-se um arrefecimento. Depois, a quebra não se notou tanto no mercado internacional como no nacional”, revela. Martim Guedes prevê uma descida de vendas na ordem dos três por cento, provocada pelo mercado nacional. “Temos compensado a queda com o crescimento das exportações para Alemanha e Angola”, explica. |