Autarcas de Melgaço e Monção e associação dos viticultores escreveram ao ministro da Agricultura pedindo que os vinhos de mesa não possam fazer referência no rótulo a esta casta, sob pena de enganarem os consumidores e prejudicarem a denominação de origem.
Os produtores de vinho alvarinho não querem que os vinhos de mesa possam ostentar no rótulo a referência à casta alvarinho, "para não induzir em erros os consumidores". Mais, estão convictos que a nova legislação que está a ser preparada iria, no seu caso, "banalizar um vinho de características superiores e, assim, desacreditar toda uma região demarcada". E já o disseram ao ministro da Agricultura, pedindo que a casta alvarinho seja deixada de fora.
Em causa está o projecto de portaria que o Instituto da Vinha e do Vinho tem vindo a debater com o sector (ver texto secundário) sobre a "indicação do ano de colheita e casta na rotulagem" dos vinhos de mesa, na sequência da organização comum de mercado vitivinícola. O presidente da Câmara de Melgaço lembra que "a própria directiva comunitária prevê que os países possam proteger algumas castas que não devem entrar nesta designação genérica". Conscientes de que aalvarinho "tem sido considerada por enólogos de todo o mundo uma das melhores castas brancas", há cerca de um mês foi enviada ao ministro da Agricultura, uma exposição "devidamente fundamentada".
Embora até ao momento não tenham recebido qualquer resposta positiva por parte de Jaime Silva, Rui Solheiro considera que a retirada da alvarinho é uma "saída quase obrigatória". O autarca lembra que plantar esta casta qualquer um pode, em qualquer região do país, mas só os produtores da sub-região de Melgaço e Monção é que podem usar a denominação de origem alvarinho. "Permitir que se coloque a casta no rótulo é enganar o consumidor, que acha que aquele vinho corrente, de fraquíssima qualidade e de baixíssimo preço, tem algo a ver com o que é produzido na região", diz. E salienta: "É a imagem de prestígio internacional da região que está em causa, porque os efeitos na comercialização serão óbvios."
Antonino Barbosa, presidente da Adega de Monção, partilha das preocupações do autarca de Melgaço. Lembra que existem 2200 produtores na região que vêem a sua rentabilidade ameaçada com esta nova legislação. "A não ser que o Governo aceda a proteger a casta alvarinho, uma das mais antigas do País, não sabemos o que vai acontecer", afirmou ao DN.
A "preocupação é grande na região", reconhece Antonino Barbosa, até porque as uvas para vinho alvarinho "são pagas a um euro o quilo, enquanto as outras castas são pagas a 35 ou 40 cêntimos. Os vinhos de mesa não têm a qualidade de um DOC (Denominação de Origem Controlada), mas a referência à casta pode confundir".
Já Rui Solheiro lembra que há todo um potencial turístico que gira em torno da denominação. "Não ser sensível a isto é não ter consciência de que se está a mexer com a estrutura económica de uma região que produz anualmente cerca de quatro milhões de litros de alvarinho que saem da adega a um preço médio de seis euros. Estamos a falar de qualquer coisa como 24 milhões de euros", diz. Num restaurante, uma garrafa pode chegar aos 20 euros. |