Colheita de excelência salva produtores
Diário de Notícias | 25-09-2009

Uvas de qualidade "admirável", só equiparáveis às da campanha de 1980, fazem antever vinhos de grande qualidade. Preços à produção estão a subir e, em algumas regiões, até já se garante a rendibilidade do trabalho.

Depois de dois anos de baixas produções vitivinícolas, os agricultores portugueses parecem poder sorrir este ano. A vindima não só promete ser um bocadinho mais alta do que a do ano passado, da ordem dos 9%, mas, mais importante do que isso, a qualidade das uvas "é admirável" e deverá dar origem a vinhos "excepcionais", o que está a permitir um aumento de preços aos produtores. "Está-se a garantir a rendibilidade ao produtor que ele justamente merece", refere ao DN Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura dos Verdes.

As previsões do Instituto da Vinha e do Vinho apontam para uma produção total da ordem dos 6,1 milhões de hectolitros, o que, "apesar de representar um aumento da ordem dos 507 mil hectolitros" face à campanha anterior, refere Afonso Correia, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), fica ainda "abaixo da referência de 7,3 milhões de hectolitros" que corresponde à produção média das campanhas de 2000/2001 e 2006/2007.

Em contrapartida, a produção é de "qualidade muito boa e a informação que temos é de que as uvas estão a ser transaccionadas a preços ligeiramente superiores aos da campanha anterior", diz Afonso Correia.

Uma percepção que é validada por Manuel Pinheiro, presidente da região dos vinhos verdes. "Há muitos anos que não se via uma uva de qualidade tão boa. É uma vindima admirável e vai ser um ano de excelentes vinhos." Na região, as uvas estão a ser vendidas, em média, a 50 cêntimos o quilo, "significativamente acima dos valores praticados em 2008", diz. O que é uma "boa notícia", pois "são valores que garantem a rendibilidade ao produtor que ele justamente merece".

A vindima nos verdes vai demorar mais duas semanas. Mas a grande novidade na região está para breve, com a alteração de estatutos da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, que permitirá aos viticul- tores produzir 13 500 kg por hectare, em vez dos actuais 10 600 kg, o que lhe dará oportunidade de rendibilizarem as novas vinhas, além de prever o lançamento dos Verdes Colheita Tardia. Vindimados no Inverno, são vinhos de pequena quantidade mas com grandes teores alcoólicos.

Também o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Vilhena Pereira, admite que os preços praticados "estão com tendência para subir um bocadinho". Em causa estão valores entre os mil e os 1100 euros a pipa para vinho do Porto e entre os 225 e 400 euros por pipa para os vinhos do Douro. "A vindima está a correr bem. Há uma pequena perda de quantidade, talvez da ordem dos 5% em algumas regiões, que é depois compensada noutras, devido a alguma desidratação das uvas, mas a qualidade é excepcional para o Porto", salienta.

Já na Bairrada a convicção é de que poderá assistir-se a uma "ligeira melhoria", mas, em média, os preços das uvas "continuam a não cobrir os custos de produção." Valores exactos não há. João Casaleiro, da comissão vitícola da região, diz que "com 70% da vindima feita as expectativas são as melhores e o ânimo da generalidade dos produtores é muito interessante". Uma visão partilhada pelos vizinhos do Dão. "Contamos com vinhos de altíssima qualidade, o que permitirá remunerar melhor os produtores, o que é muito importante com a crise que se vive", diz Valdemar Freitas.

 
 
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