Ainda há uvas por apanhar no Algarve, mas grande parte dos viticultores está já a concluir as vindimas, pois o mês quente de Agosto deu uma ajudinha para que o fruto atingisse o ponto de maturação cedo, um fenómeno que se acentua a cada ano.
Por isso, em Agosto, os produtores lançaram mãos à obra. E a previsão é de que a próxima leva de tintos, brancos e rosés algarvios será de grande qualidade.
Rui Virgínia, proprietário da Quinta do Barranco Longo, em Algoz, não se deixou apanhar por «surpresas», por isso preparou as vindimas com antecedência, o que o levou a considerar este ano «perfeito em termos de vinha».
Assim, a colheita foi iniciada quando as uvas estavam no seu ponto óptimo. A partir de 3 de Agosto, fez-se a vindima das castas brancas (Viognier, Sauvignon Blanc, Arinto, Chardonnay), enquanto até 26 de Agosto se colheram as castas para elaborar o rosé (Aragonês e o Touriga Nacional) e as para os tintos.
Quando este produtor já ia a meio das vindimas, outros começavam ainda a apanhar as primeiras uvas. «Aqui começamos as vindimas a 20 de Agosto. Temos notado que, cada vez mais, se fazem as vindimas mais cedo. Antes, em Lagoa, faziam-se com a festa da Senhora da Luz», no dia 8 de Setembro, sublinhou João Mariano, proprietário das quintas da Penina (Portimão) e da Lameira (Lagoa/Alcantarilha).
A este vitivinicultor ainda lhe falta uma casta – Petit Verdot, uma variedade francesa – que deverá começar na próxima semana.
Na mesma altura, começavam as vindimas na Quinta dos Correias (Luz de Tavira), segundo disse ao «barlavento» Carlos Silva e Sousa.
«Comecei com o Cabernet Sauvignon, que está numa encosta de areia, virada a Sul e exposição solar plena. Nas que estão nas baixas e mais a Poente, estou a acabar», avançou.
Há, porém, quem prolongue a vindima até meados de Outubro, como é o caso da Adega Cooperativa do Algarve.
É que os produtores têm que jogar com os meios que têm. Na próxima semana, «vamos vindimar a última casta, mas estamos limitados, porque a fermentação demora dez dias e temos capacidade para 12 mil litros/quilos de cada vez. No total, são 30 toneladas, o que implica que tem sair um para entrar o outro», salientou João Mariano.
Em teoria, as suas duas vinhas (15 hectares) poderiam produzir 200 mil garrafas, mas, por enquanto, fica-se pelas 30 mil, passando a estratégia por duplicar o volume de produção sempre que haja mercado.
Também Rui Virgínia adoptou a mesma política, mas considera ainda estar a meio do ideal para a empresa, que são as 300 toneladas por ano. Em 2009 entraram na adega «150 toneladas de uva, o que corresponde a 150 mil garrafas», afirmou.
O volume de produção foi mantido, tendo sido aumentada a produção do vinho branco, através de uma parceria com dois vinicultores, e diminuído o vinho tinto. Diminuíram ainda os valores alcoólicos, tendo sido vinificado «o rosé com 12 graus, os brancos com 13 e os tintos com 13,5 graus de álcool provável».
Enquanto os produtores particulares duplicam volumes, a Adega Cooperativa do Algarve sente uma quebra que oscila entre os 10 e os 20 por cento, devido à diminuição de produção «no campo e por muitos associados terem optado por ter as suas adegas particulares», explicou José Pina, presidente daquela adega.
O vinho feito com estas uvas poderá ser uma surpresa, devido às condições climatéricas, à qualidade das uvas, ao novo enólogo e à colocação dos equipamentos das duas adegas que se fundiram – de Lagoa e de Lagos - num só local.
Agora resta esperar por 2010 para provar os diferentes vinhos algarvios, pois o néctar ainda tem que passar por muitas fases até chegar às prateleiras. Os brancos e os rosés estão à venda a partir de Abril, mas os tintos, após fermentarem, têm que estagiar entre um a dois anos. |