Vindimas e pisas regressam ao Douro
Lusa/Sol | 20-09-2009

O feitor marca o ritmo enquanto dentro do lagar de granito, em pleno Douro, 40 pessoas pisam as uvas, primeiro obedecendo a um ritmo rigoroso, numa espécie de marcha que se desfaz quando chega a hora da liberdade, da música e do bailarico.

Na Quinta do Vesúvio, que foi uma das principais propriedades de Dona Antónia Adelaide Ferreira, a 'Ferreirinha', e hoje pertence à família Symington, todos os vinhos do Porto continuam a ser pisados pelos pés dos homens nos lagares de granito construídos no século XIX.

À noite, depois de um dia de vindima, homens e mulheres entram nos lagares, mas aqui nada é feito ao acaso, nem a roupa, tendo todos de vestir uma camisa de xadrez vermelha e calções azuis.

O feitor Arlindo Rodrigues grita o ritmo e as pernas das dezenas de homens e mulheres obedecem, pelo menos durante hora e meia.

«É preciso dirigi-los. Se não marcar o passo quando vou a ver já anda um para cada lado», afirmou à Agência Lusa Arlindo Rodrigues.

Agarrados uns aos outros, seguem a um passo certo para a frente, para trás, primeiro o pé direito e depois o esquerdo.

Quando chega a hora da liberdade, estala a música, afinam-se as vozes e inicia-se um verdadeiro bailarico dentro do lagar.

«Viemos para as vindimas para ganhar alguns tostões. À noite no lagar ganhamos mais um pouco e andamos aqui a divertir-nos», referiu o feitor.

Alcino Rocha vem há 14 anos de Cinfães para a Quinta do Vesúvio, em Vila Nova de Foz Côa, para ganhar dinheiro mas, aqui diz que «trabalha com prazer».

«Andamos cá dentro durante três horas, mas havendo uma festa assim como esta não custa nada, nem se dá conta do tempo a passar», frisou.

Luís Manuel diz que as forças para trabalhar no lagar depois de um dia inteiro a vindimar vêm da necessidade de ganhar mais algum dinheiro. «Que remédio!», sublinhou.

Catarina Ferreira, universitária de 19 anos, reconhece que o sono já é muito, mas sublinha que se diverte mais na pisa no lagar do que na vinha e até enumera as vantagens do mosto para uma mulher.

«Isto faz comichão mas pernas e fico toda roxa, mas faz bem às unhas e à circulação do sangue nas pernas», salientou.

Maria Rosa foi uma das primeiras a arranjar par para o baile. «Custa um bocado a dançar porque isto é duro. Dançava-se melhor se fosse do lado de fora. Mas assim as uvas ficam bem pisadas e atingem um bom grau», frisou.

Dominic Symington salientou que a sua família faz questão de manter a tradição na emblemática Quinta do Vesúvio, que se ergue nas encostas íngremes do Douro Superior.

«O que fazemos no Vesúvio que é distinto a qualquer outra quinta no Douro é que fazemos todo o nosso vinho do Porto através da pisa a pé em lagares de pedra», sublinhou.

Estes seculares lagares de granito de 24 pipas figuram entre os maiores do Douro.

 
 
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