Nas terras quentes do Baixo Alentejo, Henrique Uva, cunhado de José Manuel Durão Barroso, o presidente da Comissão Europeia, produz 800 mil garrafas de vinho que tem conquistado reconhecimento nacional e internacional. O segredo está na escolha certa das castas.
Há quem lhe chame "Alentejo profundo". Henrique de La Puente Uva prefere chamar-lhe "terras quentes" do Baixo Alentejo. É por ali, próximo de Beja, onde a produção de vinho escasseia de tradição, que o empresário se lançou no ramo vinícola no recente 2004. Negócio arriscado? Sem dúvida. Mas bem sucedido e em crescimento, para já. Que o digam os 74 prémios conquistados em concursos nacionais e além-fronteiras, que ilustram as estantes da adega da Herdade da Mingorra, na freguesia da Trindade. E a exportação ganha espaço!
Não é vulgar encontrar por vinhas alentejanas semelhanças com o que Henrique Uva testou na sua Herdade da Mingorra. Conservar vinhas velhas, com 30 anos, manter castas mais novas (15 anos) e avançar com plantações mais recentes resulta numa produção limitada a 700 mil litros de vinho, extraídos de 120 hectares de vinha.
O objectivo é que as actuais 800 mil garrafas produzidas - das quais vende 600 mil - superem o milhão e cem mil unidades à medida que os 140 hectares de vinha entrem em plena produção. Ainda assim, o empresário, que é cunhado de José Manuel Durão Barroso, prefere avançar com cautelas, admitindo que hoje em dia ainda não consegue vender a totalidade das 800 mil garrafas que produz, tendo de recorrer ao granel para assegurar o completo escoamento do vinho.
"Tirando as reservas que se devem guardar, não ficamos com vinho de um ano para o outro, porque seria sempre mais difícil de vender", explica, revelando que mais de 50% da produção se destina à exportação para os mercados de Angola, Brasil, Estados Unidos e Canadá. "Foram conquistas após muitas presenças em feiras por esse mundo fora, mas teve que ser, porque o mercado nacional está saturado e não teríamos futuro, já que para aumentar a nossa quota teríamos de baixar preços. Isso não levava a lado nenhum", justifica o empresário de 56 anos, que reparte o tempo entre a gestão da Herdade da Mingorra e a administração do Hotel Vasco da Gama, em Monte Gordo.
A aposta na produção de vinho acabou por ser um processo quase natural na vida de Henrique Uva, que em 1980 arrendou a Herdade da Mingorra, acabando por a comprar seis anos depois. A herdade contabilizava 650 hectares, mas a área duplicou através da compra de terrenos vizinhos, que hoje estão ocupados com floresta e várias culturas. Para a vinha sobraram 140 hectares. O empresário vendia as uvas até ao início da década, quando decidiu lançar-se no negócio do vinho. "Construímos uma adega moderna, com tecnologia de ponta, associada a vinhas velhas e novas", justifica, numa altura em que apresenta em prateleira vinhos que vão dos 2,5 aos 25 euros, sendo o Vinhas da Ira o seu topo de gama. Porém, a maior curiosidade que tem saído das mãos do enólogo Pedro Hipólito recai sobre o número dois, que mistura 2500 quilos de uvas oriundas da exploração da sogra no Douro e outros tantos do Alentejo. O Uvas Castas não pode ir a concurso por ser um vinho de mesa, sendo a mistura entre as regiões feita apenas depois de o vinho do Douro estagiar durante um ano em barrica de carvalho francês.
Espreitando as castas, Henrique Uva escolhe a touriga nacional como uma mais-valia que pretende afirmar entre os tintos da herdade, tirando partido dos aromas. Ao estrangeiro foi buscar exemplares tão conhecidos dos portugueses como cabernet sauvignon e merlot. |