O Alentejo é o líder de um segmento de negócio que tem vindo a perder dinheiro na restauração, à medida que os portugueses reduzem as refeições fora de casa.
O consumo de vinhos em Portugal sofreu um ligeiro crescimento no último ano, impulsionado pela procura de produtos regionais. A região do Alentejo continua a ser a líder incontestada, com 44,3 por cento de quota de mercado em valor. Ainda assim, nem este negócio está imune à crise, o que é visível na degradação financeira de algumas adegas e na quebra de vendas nos restaurantes. O ataque das cervejeiras também é uma ameaça.
De acordo com os dados da consultora AC Nielsen, as vendas subiram 2,8 por cento para perto de 103 milhões de litros, entre Dezembro/Janeiro de 2008 e o mesmo período de 2009. Já em valor, verificou-se um acréscimo de 3,7 por cento para os 406 milhões de euros. O preço médio por garrafa também registou um aumento, tendo passado de 2,94 para 2,96 euros.
Os vinhos do Alentejo, mais especificamente os que têm Denominação de Origem Controlada (DOC) e os regionais, representam praticamente metade das vendas, atingindo uma quota de 44,3 por cento em valor e de 40 por cento em volume. Dora Simões, presidente da direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), explicou que esta liderança já é "histórica", uma vez que "a região tem vindo a crescer de forma consecutiva nos últimos anos".
Os vinhos regionais do Alentejo são os que têm dado um maior impulso ao negócio, compensando, aliás, um ligeiro abrandamento dos vinhos DOC. Isto porque "são produtos mais adaptados ao gosto do consumidor, passíveis de serem consumidos em várias situações, que actuam em diversos segmentos e que têm por detrás uma estrutura empresarial forte, dinâmica e capaz de criar marcas consistentes", acrescentou.
A região alentejana é seguida pelo Minho (regional e DOC verdes), com 23 por cento do mercado em volume e 19,5 por cento em valor. Em terceiro lugar está o Douro, à frente da região de Setúbal. Dora Simões prefere não utilizar a palavra "rivais" para classificar os concorrentes. "Alguns desses produtos são complementos interessantes aos vinhos do Alentejo, que são mais fortes nos tintos", disse. Para a presidente da CVRA, o importante é "alargar a base do consumo de vinhos".
O mesmo não se pode dizer da investida das cervejeiras. Tanto a Unicer (que detém a Super Bock) como a Central de Cervejas (dona da Sagres) estão a tentar conquistar espaço, com produtos com características de sabor e embalagem semelhantes às do vinho. Uma estratégia que a responsável vê com "receio e preocupação".
Apesar da retracção do consumo, a venda de vinhos aumentou, embora de forma ténue. A grande mudança está a notar-se ao nível da restauração. É que os portugueses estão a evitar fazer refeições fora de casa. Mas esta diminuição é, porém, compensada pelo aumento da procura dos supermercados. "É, para já, o reflexo mais nítido da crise", sublinhou Dora Simões. |