As vindimas de 2006 deverão resultar na produção de 125 mil pipas de Vinho do Porto, um valor ligeiramente superior ao do ano passado. A previsão foi feita pela Associação de Empresas do Vinho do Porto, que confia na manutenção dos preços relativamente ao ano passado.
O Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) deverá aprovar na próxima segunda-feira o comunicado para a vindima de 2006, prevendo-se que estipule a produção de Vinho do Porto em 125 mil pipas. A previsão foi feita ontem pela Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP) que fala num aumento ligeiro em relação ao ano passado de cerca de cinco mil pipas. “Não será um grande aumento porque não fazia sentido face ao ponto de situação do mercado, mas como temos expectativa que o negócio continue não faz sentido que se produza menos”, comentou George Sandeman, presidente da AEVP, defendendo ainda a manutenção dos preços relativamente ao ano passado. Para a produção de 2006 o responsável fala numa ligeira descida do volume do vinho que não deverá ser acompanhada pela subida dos preços. Para já o presidente da AEVP diz que ainda não pode ser feita uma comparação com o ano passado porque só estão a ser comercializados os vintage, vendidos sempre a um preço mais elevado. Como nas restantes categorias o preço deverá descer a média de todas as categorias do Vinho do Porto deverá manter-se igual a 2005. “A verdade é que não estamos num ambiente de pessimismo. Se fosse o caso, a vindima este ano seria mais pequena”, continuou, explicando que o ligeiro aumento na produção justifica-se para permitir a reposição do volume de comercialização. George Sandeman mostra mais confiança nos ganhos do sector dentro de dois a três anos, altura em que admite haver mais promoção do Vinho do Porto e em que os vinhos licorosos da Europa deverão ser mais concorrenciais face aos que são produzidos em países como Estados Unidos e Austrália.
Falta de consenso
Para a aprovação do comunicado da vindima de 2006, sujeito aos votos de seis representantes do comércio e seis representantes da produção, não deverá contudo haver consenso sobre a gestão do valor cobrado na venda das uvas e do vinho. Desde 2003 que o IVDP recebe o pagamento dos comerciantes (entre 110 e 125 mil euros) e encaminha no próprio dia para o produtor, mas a Casa do Douro reclama o papel de intermediário, função que desempenhava antes da criação do IVDP. “Na prática não haverá consequências nem atrasos na definição das quotas porque caso não se chegue a um consenso o IVDP emite o comunicado. Mas com esta desresponsabilização da Casa do Douro, caso algo corra mal no futuro vêm dizer que nada têm a ver com isso”, criticou Isabel Marrana, directora executiva do AEVP. Os responsáveis desta associação têm uma posição bastante crítica sobre as competências da Casa do Douro e, apesar de salientarem que é necessária para garantir o equilíbrio entre a produção e o comércio do Vinho do Porto, defendem que não lhe compete gerir as contas das vindimas por representarem apenas uma das profissões. “Qual a credibilidade deste organismo que não aprova as contas desde 2002”, questiona o director António Saraiva, para quem a falta isenção é outro dos critérios. O JANEIRO tentou contactar o presidente da Casa do Douro, mas não conseguiu em tempo útil. A AEVP aponta ainda o dedo à Casa do Douro quando esta pressiona para o estabelecimento de um preço mínimo para a venda do Vinho do Porto, uma acção ilegal perante a lei. Os empresários do sector consideram que não há necessidade de estipular um valor e, caso isso venha a acontecer, dão a entender que temem uma oscilação dos preços para os consumidores.
Preço pode subir
Os empresários do sector do Vinho do Porto receberam com cautela a proposta da Comissão Europeia para a Organização Comum do Mercado (OCM) porque pode provocar o aumento do preço do Vinho do Porto para os consumidores. O documento, apresentado em Junho pela Comissão Europeia, sujeito a discussão pública durante o próximo ano e votado quando Portugal ocupar a presidência deste órgão, prevê uma redistribuição dos subsídios para o sector passando a incidir na promoção dos vinhos europeus e deixando de apoiar a sua produção. “O raciocínio parece correcto, mas há produtos que usam a aguardente vínica e que acabarão por sofrer um aumento no preço”, justificou ontem aos jornalistas Isabel Marrana, directora executiva da Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP). Os responsáveis da associação dizem que o mercado não está preparado para suportar estes aumentos, que podem chegar a um acréscimo de 60 cêntimos por uma garrafa de Vinho do Porto, e reclamam que na discussão pública da proposta sejam sugeridas alternativas que evitem estes aumentos. George Sandeman, presidente da AEVP, justifica esta necessidade sobretudo para que os vinhos licorosos produzidos na Europa consigam concorrer com os que são produzidos no “novo mundo”, em países como os Estados Unidos e Austrália, que conseguem preços de produção mais baixos. Jorge Sandeman anunciou ainda que a associação está a trabalhar com a Comissão Europeia na elaboração de um plano de comunicação que convença os consumidores da redução dos efeitos maléficos do consumo de álcool. A ideia que pretendem transmitir é que pode haver o consumo do Vinho do Porto pode ser “saudável” quando ingerido nas doses certas. |